A construção da identidade de gênero em crianças no brincar: uma análise microgenética das interações sociais

RESUMO

O presente trabalho analisa a construção da identidade de gênero em crianças pela via do brincar no cotidiano escolar. A teoria sócio-histórica constitui o marco teórico utilizado, subsidiando a compreensão da brincadeira enquanto produção sócio-cultural da criança, cuja natureza e origem são elementos fundamentais para a construção da sua personalidade e a realidade da qual faz parte. A forma como acontece o brincar, se dá de acordo com determinadas relações que o sujeito estabelece com outros sujeitos, construindo através destas relações a sua identidade. O outro tem papel essencial na constituição da pessoa e a identidade de gênero é um dos aspectos inerentes à esta constituição, pois depende fundamentalmente do contexto social no qual o sujeito está inserido. Analisado sob o ponto de vista da significação, o brinquedo como retrato da realidade, pode representar as relações de gênero, nas quais a tradição cultural privilegia objetos do universo doméstico para meninas e objetos do universo do trabalho para meninos, denunciando o valor que a sociedade dá, através das figuras dos pais, professores, etc., ao feminino e ao masculino. Utilizou-se a metodologia de análise de episódios onde, a partir das filmagens do contexto de brincadeira livre no ambiente escolar, verificou-se a construção dos significados quanto às questões de gênero. Constatou-se que há um jogo intenso de poder, através do qual as significações sobre o que é de menino ou o que é de menina são confrontadas entre os sujeitos, demonstrando que a construção da identidade de gênero é um processo dinâmico que se pauta nas contradições históricas e culturais de uma sociedade (AU)