RESUMO
Atividades teatrais com motes científicos têm se tornado prática cada vez mais comum na divulgação científica, alcançando novos espaços e públicos. No Brasil, uma parcela significativa dessa prática acontece em museus e centros de ciência. No Museu da Vida/Fiocruz, por exemplo, o teatro integra organicamente a programação de atividades oferecida aos visitantes. Em 2015, face ao aumento no número de casos de HIV/Aids entre jovens, o museu desenvolveu uma atividade teatral para engajar esse público no debate sobre o tema. Com o objetivo de analisar o potencial da peça O rapaz da rabeca e a moça Rebeca, seguida de debate, como estratégia de divulgação científica, visitamos quatro escolas em que o espetáculo fora apresentado cerca de seis meses antes e realizamos 25 entrevistas e oito grupos focais com um total de 72 estudantes que haviam participado da atividade. Os resultados indicam que a iniciativa foi bem-sucedida como estratégia de divulgação científica, uma vez que se conectou com a realidade dos jovens, agradou-os em diferentes aspectos e estimulou em alguns casos reflexões e conversas sobre o tema das IST, do HIV/Aids e da sexualidade, entre os estudantes e entre eles e seus professores e familiares.
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Comunicação e Divulgação Científica , Ciência , Drama , HIV , Síndrome da Imunodeficiência Adquirida , AdolescenteRESUMO
A importância de mover o corpo para a promoção da saúde, a dança como linguagem em uma ação de divulgação científica, a ciência como inspiração para a criação de um espetáculo coreográfico há tantas formas de pensar e fazer a integração entre Ciência e Dança! Também há muito a descobrir. Onde as ações de Ciência e Dança estão acontecendo? Quem está por trás delas? Será que há intencionalidade de divulgar ciência em todas essas possibilidades? Este artigo tem como objetivo dar início ao trabalho prático e reflexivo de um grupo que propõe a integração da Ciência e a Dança dentro da perspectiva da divulgação científica. Para isso, apresentamos e refletimos sobre a performance corpo-gravidade (acessível via QR code no corpo deste artigo), com o intuito de testar e tensionar essa mescla de linguagens. Ela representa o primeiro movimento do LAB Ciência e Dança.
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Dança , Ciência , Comunicação e Divulgação Científica , ArteRESUMO
A ciência e o teatro têm um longo histórico de interações, as quais costumam promover colaborações entre artistas e cientistas. Centrado no teatro que ocorre no contexto da divulgação científica, este artigo tem como objetivo analisar a colaboração entre artistas e cientistas na produção da peça A vida de Galileu, de Bertolt Brecht, no Museu da Vida. A partir de entrevistas com 12 sujeitos envolvidos na montagem, identificamos um forte engajamento com o projeto, o qual propiciou uma rica troca e apropriação de conhecimentos, além de levantar questões relevantes sobre o teatro realizado no contexto específico da divulgação científica.
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Ciência , Tecnologia , Arte , Literatura , Museus , Exposições Científicas , Centros Interativos e Exposições de Ciência e Tecnologia , Comunicação e Divulgação Científica , Países em DesenvolvimentoRESUMO
Apesar dos avanços no enfrentamento à Aids, registra-se, na última década, o aumento de infecções por HIV entre jovens. Isso motivou o Museu da Vida a produzir uma peça sobre HIV/Aids voltada a esse público. Neste artigo, apresentamos resultados de estudo conduzido com o público do espetáculo, com idades de 11 a 19 anos, baseado na observação de nove apresentações, cinco debates pós-peça e 220 questionários. Além de recepção positiva e forte adesão dos espectadores, verificamos que a peça foi capaz de engajá-los no debate sobre HIV/Aids. Contudo, observamos que faltam espaços de diálogo sobre o assunto, o que pode estar associado à manutenção de estigma e discriminação. Concluímos que a estratégia de unir Saúde e Teatro em uma atividade de divulgação científica foi bem-sucedida, mas ainda há muitos desafios relacionados ao enfrentamento do HIV/Aids, sobretudo entre os jovens.
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Comunicação e Divulgação Científica , Ciência , Arte , Saúde , Drama , HIV , Síndrome da Imunodeficiência AdquiridaRESUMO
O objetivo do estudo aqui apresentado foi analisar a cobertura da grande imprensa nacional sobre o aborto em caso de Zika e examinar se esta reforçou os discursos já associados à prática ou se ampliou e qualificou a discussão sobre o tema. Trata-se de pesquisa qualitativa realizada com base na análise de 43 notícias sobre Zika/microcefalia/aborto publicadas pelos jornais O Globo e Folha de S.Paulo entre novembro de 2015 e dezembro de 2016. Baseando-se em conceitos do Jornalismo e da Análise do Discurso, identificamos as fontes presentes na cobertura e analisamos os argumentos por elas usados para justificar suas posições, além de estratégias, saberes e valores mobilizados nesta argumentação. Constatamos que os dois jornais privilegiaram fontes especializadas - médicos na Folha de S.Paulo e advogados e juristas em O Globo - e silenciaram as vozes de mulheres diretamente afetadas. Quanto à argumentação, as fontes favoráveis ao direito ao aborto em caso de Zika denunciaram, sobretudo, as injustiças sociais, enquanto as contrárias à proposta reacionaram o discurso em defesa da vida. Observamos a predominância de saberes de crença e valores morais na arena discursiva analisada, marcada ainda por analogias carregadas de sentidos negativos nos dois polos do debate. Comparando nossos dados aos de outros estudos sobre o aborto na mídia, consideramos que a cobertura da grande imprensa sobre Zika/microcefalia/aborto desempenhou um papel relevante na reconfiguração do discurso midiático sobre o tema, caracterizada por um enfoque mais técnico, pela pluralidade de vozes e posicionamentos, e por maior espaço reservado a argumentos favoráveis baseados em princípios constitucionais.
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Aborto , Zika virus , Microcefalia , Discurso , Meios de Comunicação de MassaRESUMO
Este artigo analisa a abordagem da epidemia de zika e microcefalia pela página da Fundação Oswaldo Cruz no Facebook entre maio de 2015 e maio de 2016. Seguindo procedimentos da análise de conteúdo, destacamos características das postagens sobre o tema a partir de sua frequência, enquadramento, formato e engajamento. Também analisamos qualitativamente parte dos comentários das postagens de maior engajamento. Os resultados mostram o destaque recebido pelo tema na página e evidenciam a priorização do enfoque científico e político-institucional, o emprego da ciência para conferir credibilidade aos conteúdos e a popularidade das postagens sobre boatos junto ao público. Constatou-se, ainda, pouca interação por parte da Fiocruz e pequena variação dos formatos empregados nas postagens, com priorização de recursos tradicionais.
RESUMO
Festivais de ciência como o Pint of Science (PoS) têm se popularizado e registrado um aumento de participantes. O PoS visa aproximar cientistas e público em locais informais, como bares e restaurantes. O objetivo desta pesquisa foi traçar o perfil do público no festival realizado em 2018, no Rio de Janeiro, e identificar pontos fortes e fragilidades. Por meio de questionários aplicados aos participantes (n=486), constatamos a predominância de um público branco, com alta escolaridade e já envolvido com ciência. Um desafio para o PoS é diversificar seu público e avançar na popularização da ciência.
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Comunicação e Divulgação Científica , Participação Cidadã em Ciência e Tecnologia , Ciência, Tecnologia e SociedadeRESUMO
Na cobertura do debate sobre a possibilidade de interrupção da gravidez em caso de infecção pelo vírus zika ocorrido no auge do surto de microcefalia fetal associado à doença, a imprensa brasileira deixou de fora atores a quem mais interessava o debate. Jornais de referência nacional que (re)colocaram o tema do aborto em discussão ouviram especialistas como médicos e juristas, mas silenciaram as vozes das mulheres e famílias afetadas pela epidemia. A quem interessa uma mídia que não acolhe todas as vozes e saberes, e não considera o conhecimento leigo e as experiências e circunstâncias pessoais dos indivíduos?
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Comunicação e Divulgação Científica , Meios de Comunicação de Massa , Infecção por Zika virus , Microcefalia , BrasilRESUMO
O teatro tem sido usado como estratégia de educação e divulgação da ciência em museus. Neste artigo, analisamos duas atividades teatrais oferecidas pelo Museu Ciência e Vida, de Duque de Caxias (RJ). Com base em entrevistas e questionários, verificamos que os visitantes consultados têm familiaridade com o teatro, embora sejam frequentadores esporádicos desses espaços. Aqueles com menos acesso a programas culturais, envolvimento prévio com as temáticas abordadas e cujos filhos se engajaram na atividade tenderam a uma recepção positiva da mesma. Quando a atividade não atraía a criança ou a expectativa em relação a ela era diferente da vivenciada, a tendência foi de insatisfação. Independentemente das opiniões colhidas, vimos que as atividades despertaram no público reações que seriam dificilmente provocadas por atividades tradicionais do museu. Por este e outros motivos, defendemos a interação entre ciência e teatro como uma estratégia instigante e diferenciada de educação e divulgação da ciência.
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Comunicação e Divulgação Científica , Ciência nas Artes , MuseusRESUMO
A ciência não costuma figurar com destaque nas manifestações culturais brasileiras. Ainda assim, é possível encontrar referências a ela nas formas mais populares de comunicação, a exemplo da literatura de cordel. Neste artigo, a partir de um corpus de 50 cordéis sobre temas relacionados à ciência, buscamos compreender, por meio de uma análise discursiva, como o universo científico está inserido e é retratado nesse gênero literário. Observamos que os cordéis apresentam, em seu conjunto, uma imagem ambivalente da ciência, ora exaltando os feitos científicos e seus autores, ora oferecendo um olhar crítico sobre o desenvolvimento tecnológico. Nosso estudo sugere que a convergência da ciência e da literatura de cordel tem potencial para aproximar a cultura científica da cultura popular, além de fomentar um pensamento crítico sobre as relações entre ciência e sociedade, sendo, portanto, uma ferramenta interessante de educação e popularização da ciência.
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Ciência , Literatura , Tecnologia/etnologia , CulturaRESUMO
Em 1998, pesquisas com células-tronco tornaram-se objeto de intensa controvérsia. No Brasil, a polêmica atingiu seu ápice em 2008, quando o Supremo Tribunal Federal iniciou julgamento de ação legal, questionando a nova Lei de Biossegurança por permitir o uso de embriões humanos em pesquisas. Analisa-se aqui a cobertura sobre as células-tronco embrionárias humanas realizada pelo Jornal Nacional . Observa-se tom positivo, marcado pela ênfase nos potenciais benefícios oferecidos pela pesquisa e omissão de limitações e riscos envolvidos. O pequeno índice de sucesso obtido até então como resultado de pesquisas com células-tronco embrionárias e os riscos de elas induzirem a formação de tumores foram omitidos, fazendo crer que a única barreira a novos tratamentos e curas era a legislação.
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Células-Tronco , Estruturas Embrionárias , Dissidências e Disputas , Meios de Comunicação de Massa , BrasilRESUMO
O Brasil é o segundo produtor mundial de cultivos transgênicos. No entanto, houve intensa controvérsia em torno da introdução de tais plantações no país. Este estudo analisa a cobertura dos cultivos transgênicos em dois jornais de elite brasileiros, Folha de S. Paulo e O Globo, em 2003, o "Ano da Controvérsia", período de intenso debate político sobre a questão no país. Utilizamos como referenciais teóricos ciclo de atenção e construção de frame mediático, associando análise quantitativa de conteúdo e entrevistas em profundidade com jornalistas visando identificar os principais fatores que influenciaram a cobertura jornalística. Nosso estudo revelou que os dois jornais cobriram o tema de forma diferente do que ocorreu nos Estados Unidos. Os jornais norte-americanos tenderam a enfatizar elementos dramáticos quando a questão dos transgênicos era discutida na arena política; no Brasil, elementos técnicos foram um foco principal nas matérias.
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Plantas Geneticamente Modificadas , Alimentos Geneticamente Modificados , Atenção , Meios de Comunicação de Massa , Jornais como AssuntoAssuntos
Comunicação e Divulgação Científica , Ciência , Tecnologia , Literatura , América Latina , Região do CaribeRESUMO
Em debates polêmicos sobre temas de ciência e tecnologia, é comum se observar a desconsideração de saberes, opiniões e argumentos provenientes do "público leigo". Em geral, considera-se que este não é capaz de opinar e menos ainda de decidir sobre questões na área. Essa postura hierárquica de domínio do conhecimento resulta, em grande medida, na falta de participação pública em tomadas de decisões relativas a tecnologias que impactam o cotidiano da sociedade, como no caso da introdução dos cultivos transgênicos no Brasil e do processo de consolidação do marco legal que os regulamenta. Durante o período em que autoridades políticas e setores interessados discutiram a questão, as tentativas de se dar voz e de se compreender a opinião dos diferentes atores sociais acerca dos transgênicos foram tímidas. Os pequenos agricultores, diretamente afetados pela nova tecnologia, tiveram envolvimento restrito no debate nacional sobre o tema. O objetivo deste trabalho é dar voz a esses atores e, assim, identificar e compreender melhor os dilemas por eles enfrentados na hora de decidir por plantar ou não cultivos transgênicos. Para isso, realizamos grupos focais com pequenos agricultores e analisamos, com base na teoria semiolinguística de Patrick Charaudeau, o arsenal argumentativo que colocam em prática na hora de falar desses dilemas. Observamos que ponderações e dúvidas, mais do que posições firmes e certezas, marcam o discurso desses atores sobre os transgênicos. Dos questionamentos feitos em relação a esses cultivos, alguns geraram mais controvérsia do que outros, como os supostos benefícios econômicos que proporcionam -- uma das principais questões consideradas pelos produtores. Por outro lado, a preocupação relacionada aos perigos de contaminação das culturas convencionais e à resistência das ervas daninhas ao herbicida usado nos cultivos transgênicos foi quase um consenso entre os agricultores ouvidos, que utilizaram seus saberes empíricos para defender argumentos e persuadir interlocutores.
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Plantas Geneticamente Modificadas , Alimentos Geneticamente Modificados , FazendeirosRESUMO
Nosso objetivo é discutir a cobertura jornalística de temas de ciência e tecnologia locais na América Latina, tendo como estudo de caso a editoria destinada a esses temas em seis jornais diários de três países da América Latina Clarín e La Nación, Argentina; Folha de São Paulo e O Globo, Brasil; Reforma e La Jornada, México. Os textos incluídos neste artigo foram coletados no período de janeiro a dezembro de 2006 e analisados com base na metodologia de semana construída e utilizando análise de conteúdo. Nossa amostra reúne 441 textos. Nossos dados sugerem que há uma maior valorização dos cientistas nacionais por parte dos jornais argentinos e mexicanos, em comparação com os jornais brasileiros; estes tendem a dar maior ênfase às pesquisas nacionais e seus resultados do que aos cientistas como indivíduos. Observamos uma ênfase dada a temas relacionados à medicina e saúde, em contraste com os jornais brasileiros, que se dividiram entre foco para as ciências exatas e foco para temas ambientais. O jornal mexicano Reforma se destacou pelo espaço dado à política científica. A maioria das matérias foi assinada por jornalistas que compõem a equipe dos jornais, que utilizaram os cientistas como as fontes principais de informação em suas matérias.
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Jornalismo Científico , Jornais como Assunto , História do Século XXI , América LatinaRESUMO
Este texto discute a contribuição da artista plástica, educadora e humanista Fayga Ostrower (1920-2001) ao tema ciência e arte. Fayga dedicou sua vida às artes plásticas e à educação artística. Entre 1948 e 2001, expôs suas obras em diversos museus brasileiros e estrangeiros. Lecionou durante 16 anos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ministrou cursos nas principais instituições artísticas do país e proferiu palestras para estudantes, artistas, operários e empresários por todo o mundo, com carisma, didatismo e clareza. Além de uma breve biografia da artista, pretende-se apresentar aqui suas principais idéias sobre as relações entre a arte e a ciência, um tema que a fascinava. Muitas dessas reflexões foram registradas por ela em seu penúltimo livro, A sensibilidade do intelecto: visões paralelas de espaço e tempo na arte e na ciência, pelo qual recebeu o Prêmio Literário Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1999.