INTRODUÇÃO:
Infecção viral é uma das
causas mais comuns de
miocardite. O novo
coronavírus (
Sars-Cov-2) tem um amplo espectro clínico, desde
pacientes assintomáticos e
oligossintomáticos até a
síndrome respiratória aguda grave. A
patogênese da
miocardite na
COVID-19 é incerta, mas são descritas a disfunção endotelial, a ligação linfocitária aos
miócitos cardíacos e a ação de
citocinas inflamatórias. O
PCR, que detecta
RNA viral, pode ser positivo após 37 dias do início dos
sintomas. DESCRIÇÃO DO
CASO Feminina, 48 anos, hígida, procurou o
pronto-socorro em junho de 2020 com
dispneia de
caráter progressivamente limitante às
atividades diárias que se iniciou há um mês, evoluindo, em três semanas, para
dor torácica ventilatório-dependente. Referiu
febre e
tosse seca no início do quadro, sem outros
sintomas. O
eletrocardiograma inicial mostrava ritmo sinusal,
bloqueio de ramo esquerdo e sobrecarga de
câmaras esquerdas.
Medida da
troponina não-
reagente.
Tomografia de
tórax admissional com
vidro fosco bilateral < 50%, e
PCR para
Sars-Cov-2, mesmo após um mês de
sintomas, foi positiva. O ecocardiograma transtorácico (06 de junho) demonstrou
hipocinesia difusa de VE com fração de ejeção (FEVE) de 28% (Simpson), além de
derrame pericárdico (DP) discreto,
lâmina de 12 mm, sem
sinais de repercussão
hemodinâmica. Na internação, evoluiu com
insuficiência cardíaca (IC) descompensada, necessitando da
administração parenteral de inotrópico e
vasopressor. A
ressonância magnética cardíaca evidenciou áreas de
fibrose mesocárdica no segmento septal nas porções basal e média, além de realce tardio mesoepicárdico com
edema em segmentos inferior e inferolateral médio e basal, sugerindo processo inflamatório miocárdico agudo/subagudo. A
inflamação se estendia também ao
pericárdio, com DP circunferencial adjacente. Após 3 dias de internação, as
drogas parenterais foram suspensas, com introdução de medicações orais para
tratamento de IC, com
otimização gradativa. Evoluiu com importante melhora sintomática, mantendo
disfunção ventricular (FEVE 30%) e DP discreto. Recebeu alta no início de julho e, atualmente, está em seguimento ambulatorial na seção de
miocardiopatias. Em última
consulta, encontrava-se em classe funcional I de NYHA em uso de
terapia medicamentosa para IC.
CONCLUSÃO:
Relatamos o
caso de uma miopericardite subaguda como provável complicação tardia de uma
infecção por
coronavírus em
paciente jovem hígida.