RESUMO
Descrevem-se dois surtos de intoxicação por clo-santel, um em ovinos e outro em caprinos, no Estado de San-ta Catarina. No primeiro surto, de 12 ovinos que adoeceram 5 apresentaram cegueira, desses três morreram (Ovinos 1-3) e dois (Ovinos 4 e 5) foram eutanasiados, 6 meses após ficarem cegos. No segundo surto, de 26 caprinos que adoeceram, seis animais sobreviveram, porém ficaram cegos, e um deles foi eutanasiado. Clinicamente os animais apresentavam depressão, ataxia, incoordenação motora e reflexo pupilar diminuído a ausente. Em alguns animais esse quadro evoluiu para cegueira bilateral com ausência de reflexo de ameaça e midríase bilateral irresponsiva. Ao exame oftálmico verificou-se atrofia dos vasos da retina e hiperreflexia. Pelo exame histológico observou-se edema mielínico levando a status spongiosus no sistema nervoso central e neuropatia compressiva no nervo óptico, acompanhada de degeneração e/ou atrofia da retina. O objetivo deste trabalho é descrever os aspectos epidemiológicos, clínicos e patológicos da intoxicação por closantel em ovinos e caprinos.
Two outbreaks of closantel overdosage in sheep and goat flocks are described. In the first outbreak 12 sheep were affected, 5 of them showed blindness, three sheep died (Sheep 1-3) and two were euthanized 6 months after the onset of clinical manifestation (Sheep 4 and 5). In the second outbreak 26 goats were affected, from which six survived despite blindness and one was euthanized. Clinically the animals showed depression, ataxia, motor incoordination, decreased or absent pupil reflexes. In some animals this clinical picture developed to bilateral blindness, with no reaction to threat and bilateral irresponsive midriasis. In the ophthalmic examination retinal vessel atrophy and hyperreflexia were observed. The histological examination showed myelin edema leading to status spongiosus in the central nervous system and compressive neuropathy of the optic nerve, associated with retinal degeneration and/or atrophy. This report aims to describe the epidemiologic, clinic and pathologic aspects of closantel overdosage in sheep and goats.
Assuntos
Animais , Anti-Helmínticos/toxicidade , Surtos de Doenças , Degeneração Retiniana/induzido quimicamente , Cabras , Nervo Óptico , OvinosRESUMO
Com a finalidade de esclarecer a causa da "doença-do-peito-inchado" (enfermidade que ocorre em certas regiöes de Santa Catarina e que cursa com edemas da regiäo esternal), diversas plantas foram submetidas à experimentaçäo em bovinos e, entre elas, Brunfelsia pauciflora (Cham. et Schlecht.) Benth. (fam. Solanaceae), pois havia coincidência de seu habitat com os pastos onde ocorre a maior incidência da doença e por neles essa planta ser abundante. A planta revelou-se tóxica, tanto em doses únicas como repetidas, em estado fresco ou dessecado, porém näo causou a morte de nenhum dos 10 bovinos que mostraram sinais clínicos. Os sintomas observados na intoxicaçäo experimental por B. pauciflora eram principalmente de natureza nervosa, muito uniformes, somente variando em intensidade. Constatou-se movimentaçäo atípica da língua, movimentos de mastigaçäo, sialorréia, o animal elevava contínuamente as pernas como que sapateando, esticando uma ou outra perna para traz, sacudindo-a, hiperexitaçäo, tremores musculares, por vezes acompanhados de contraçöes súbitas, desequilíbrio e, por vezes, quedas. Quatro animais tiveram, adicionalmente, ataques epileptiformes. Havia ainda diminuiçäo de apetite, emagrecimento e fezes líquidas. Nos experimentos de administraçöes únicas os sintomas foram observados durante 4 a 9 dias, diminuindo em intensidade no terço final. Nos experimentos de administraçöes repetidas, com o passar dos dias, a intensidade dos sintomas foi diminuindo até desaparecer, sóhavendo exacerbaçäo ou reaparecimento em dias de chuva e, posteriormente, nem nessas condiçöes. A necropsia e ao exame histológico näo foram encontradas alteraçöes dignas de nota em 6 animais sacrificados. Desta maneira, fica evidente que B. pauciflora näo é responsável pela "doença-do-peito-inchado". A sintomatologia nervosa que ocorreu na intoxicaçäo experimental por B. pauciflora difere grandemente dos sintomas de origem cardíaca, observados na "doença-do-peito-inchado"
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Intoxicação por Plantas , Plantas Tóxicas , BovinosRESUMO
Através de históricos e exames clínico-patológicos em animais afetados pela "doença do peito inchado" foi verificado que se trata de uma enfermidade de evoluçäo subaguda a crônica, caracterizada por insuficiência cardíaca com consequente formaçäo de abundante edema subcutâneo na regiäo esternal. Essa doença ocorre no Estado de Santa Catarina, principalmente no município de Urubici, e em escala menor ainda em outros, como, afetando bovinos a partir de 3 anos de idade, sobretudo vacas após a pariçäo e bois velhos. A enfermidade grassa apenas em pastos de mata/capoeira de regiöes de serra com altitudes entre 1100 e 1400 metros acima do nível do mar. Adoecem tanto animais nascidos na regiäo quanto animais trazidos de outras áreas, esses últimos após permanência mínima de 2 anos na regiäo. A morbilidade situa-se sempre acima de 50% e o índice de letalidade seria de 100%. A imediata transferência do animal no início da doença para regiäo indene näo influiria na evoluçäo nem evitaria a sua morte. As manifestaçöes clínicas da doença säo inicialmente cansaço e veia jugular fortemente ingurgitada e pulsando. A auscultaçäo percebem-se modificaçöes no ritmo característicos da doença. Os principais achados de necropsia säo edema dos tecidos da regiäo esternal, ascite, hidropericárdio, hidrotórax, edema do mesentério, especialmente mesocólon, edema das dobras do abomaso, edema da parede da vesícula biliar. O exame do coraçäo geralmente revela ventrículos dilatados. O miocárdio apresenta, ao corte, áreas branco-acinzentadas, de contornos irregulares e näo muito nítidas, na regiäo do septo interventricular, em toda sua extensäo, e sob forma de estriaçäo, na parede dos ventrículos, especialmente direito. O fígado está muito aumentado de volume, com bordos arredondados e coloraçäo escura; tem consistência aumentada e ao corte apresenta aspecto de noz-moscada. Os exames histológicos revelam no coraçäo edema intracelular caracterizado por tumefaçäo e em menor escala vacuolizaçäo, às vezes evoluindo para lise celular, edema extracelular, marcada fibrose intersticial difusa e ocoasionalmente presença de células gigantes miogênicas. No fígado observam-se sobretudo congestäo hepática muito acentuada com desaparecimento dos hepatócitos, praticamente transformando as áreas central e intermediária e parte de área perifárica dos lobus hepáticos em lagos de sangue, e fibrose nas áreas portais e sob a cápsula de Glisson, acompanhada de alguma proliferaçäo de células epiteliais dos du
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Animais , Edema , Fibrose , Esterno , BovinosRESUMO
Os estudos realizados no sentido de esclarecer a causa da "doença-do-peito-inchado", enfermidade de origem primariamente cardíaca que ocorre principalmente em bovinos do Estado de Santa Catarina, levaram à suspeita de tratar-se de intoxicaçäo por planta. Com o fim de se identificar o agente etiológico, diversas plantas suspeitas foram submetidas a experimentaçäo em bovinos. Uma das plantas, cujo habitat era bastante coincidente com os pastos onde ocorre a doença e sobre a qual caiu a suspeita mais forte, foi Senecio desiderabilis Vell., da família Compositae. Nesses experimentos S. desiderabilis realmente revelou-se tóxica para bovinos, tendo causado intoxicaçäo crônica, cujo quadro clínico-patológico se caracterizou por icterícia, contraçöes abdominais, sintomas nervosos, cirrose hepática e edemas. Este quadro se assemelha muito ao verificado nas intoxicaçöes por plantas que contém alcalóides pirrolizidínicos, porém difere grandemente do observado na "doença-do-peito-inchado". Há indícios de que S. desiderabilis pertença às espécies de Senecio menos tóxicas estudadas até agora no Brasil. Nos experimentos de S. desiderabilis (planta dessecada) adoeceram e morreram os dois bovinos que ingeriram a planta com inflorescência na dose diária de 10 g/kg (correspondente ao peso da planta fresca), um após 29, o outro após 102 administraçöes diárias. Doses maiores (20 e 40 g/kg), porém únicas, ou menores (2,5 e 5 g/kg), mas repetidas diariamente, da planta com inflorescências, administradas 281 vezes e dose diária de 10 g/kg da brotaçäo administrada 141 vezes näo causaram sintomas ou morte dos animais. Um bovino recebeu ainda 10 g/kg/dia da planta em diversas fases de evoluçäo, 43 vezes e também näo adoeceu. No entanto, em alguns desses bovinos (3) que näo adoeceram, mas que foram sacrificados após pelo menos 2 anos desde o início do experimento, encontram-se leves alteraçöes hepáticas macroscópicas e/ou histológicas
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Animais , Intoxicação por Plantas , Plantas Tóxicas , BovinosRESUMO
Uma doença com quadro clínico de insuficiência hepática aguda foi estudada em bovinos, no estado de Santa Catarina. O quadro clínico manifestado pelos animais doentes caracterizava-se principalmente por anorexia, apatia, atonia de rume, fezes pastosas e escuras, salivaçäo, globo ocular retraído, tremores musculares. Os animais mantinham a cabeça baixa ou apoiada em obstáculos e mostravam andar cambaleante. A morte ocorria entre 8 à 12 horas após o início dos sintomas. A necropsia de 4 bovinos, o fígado estava levemente amarelado, ao corte observava-se aspecto de nos-moscada e havia hemorragias circulares de 0,5 à 2 mm de diâmetro sob a cápsula. Também chamavam atençäo hemorragias nas serosas do rume, omaso, intestino e hemorragias no coraçäo, principalmente no sulco coronário e no endocárdio esquerdo. Ressecamento do conteúdo do omaso, cólon e reto foi observado em todos os casos. Os exames histológicos mostraram necrose de coagulaçäo do parênquima hepático associada à congestäo e hemorragias centrolobulares, e esteatose. Esta doença foi reproduzida experimentalmente através da administraçäo a 11 bovinos de folhas verdes de Cestrum corymbosum var. hirsutum coletadas na regiäo da ocorrência. Com doses únicas de 39 e 35 g/kg ou doses repetidas de 2,5 e 5 g/kg durante 14 a 23 dias, os animais adoeceram de forma aguda e morreram com sinais clínicos e lesöes macro e microscópicas semelhantes às observadas nos casos naturais. Em doses únicas de 30 g/kg ocorreram sintomas clínicos com recuperaçäo posterior, e de 20 g/kg apenas um dos dois bovinos adoeceu. A administraçäo de 0,625 e 1,25 g/kg em dois bezerros durante 95 dias näo produziu alteraçöes clínicas e nem lesöes macro e microscópicas. Conclui-se que a ingestäo de C. corymbosum var. hirsutum é a causa da doença de bovinos que ocorre no Planalto Catarinense e Alto Vale do Itajai, caracterizada por insuficiência hepática aguda. Presume-se que a ingestäo da planta está relacionada à fome, já que as mortes ocorrem mais no período de escassez de pasto e a doença pode se manifestar tanto em animais que ingiram doses únicas superiores a 20 g/kg ou naqueles que passam a consumir doses menores até no mínimo 2,5 g/kg, por vários dias (efeito acumulativo)