Vida e trabalho de adolescentes no narcotráfico numa favela do Rio de Janeiro / Life and work of adolescents in narcotraffic in a Rio de Janeiro's slum
Remete à dura realidade de milhares de crianças e adolescentes que encontram-se em situaçäo de miserabilidade, no cenário urbano da cidade do Rio de Janeiro. Numa combinaçäo perversa entre miséria e populaçäo infanto-juvenil surgem novas formas de organizaçäo de trabalho que colocam este grupo populacional em máxima vulnerabilidade social. A inserçäo de crianças e adolescentes no narcotráfico vem ganhando forte expressäo e já disputa um espaço significativo no ranking do mercado informal de trabalho, além de ser responsável pelos altos índices de violência e homicídios. No intuito de obter melhor conhecimento das práticas de vida e trabalho dos adolescentes neste contexto, foi realizado este estudo de cunho qualitativo numa favela - Complexo di Kizomba - localizada no Município da cidade do Rio de Janeiro. Verificou-se que dos 2665 adolescentes, moradores dessa favela, com faixa etária entre 10 e 19 anos, aproximadamente 7,5 por cento estäo diretamente envolvidos no tráfico de drogas e 16,8 por cento atuam indiretamente, realizando pequenas tarefas, perfazendo um total de 24,3 por cento adolescentestrabalhadores neste tipo de mercado, sendo em sua maioria do sexomasculino. Durante os anos de 1996 e 1997 ocorreram 90 mortes, representando 13,8 por cento homicídio de adolescentes envolvidos no tráfico. No entanto, os episódios de mortes näo impedem a entrada de outros jovens neste rentável negócio, que em cenas invisíveis aos olhos da sociedade, contribui com o extermínio de jovens em áreas urbanas empobrecidas. Conclui que o mundo do crime é representado no imaginário desses jovens numa oscilaçäo entre o mundo real (a imagem de ser negro, pobre e favelado - baixo status social) e o abstrato/fantasia (a figura de herói, de guerreiro e de poder econômico - alto status social). Onde as concepçöes de saúde e trabalho säo manifestaçöes de poder do narcotráfico. Pouco tem sido feito para reverter este quadro que hoje é reconhecido pela saúde pública como um fenômeno que merece atençäo da sociedade e de cientistas sociais. Tais estudos tornam-se de grande valor, no sentido de fornecer subsídios para uma açäo política que ultrapasse o mero interesse acadêmico e que possa criar estratégias viáveis de intervençäo.