RESUMEN
O conceito heurístico de mãe morta, elaborado por André Green, alude
a um estado de desligamento afetivo que acirra a sensação de desamparo
originário do bebê. Algum acontecimento, concreto ou não, passa
a desvitalizar as qualidades inerentes à figura materna, tornando-a distante
e fonte de angústias crescentes. A partir daí, a felicidade experimentada
até então pela dupla é posta em xeque e adquire tons funestos.
Agora, o bebê, sem um continente seguro e disponível, passa a cuidar
do objeto que deveria fazer isso por ele. Para sobreviver, cria tomado
por uma onipotência hipertrofiada pela aridez do ambiente a ilusão
de suprir a si próprio. Eis aí, diante de uma mãe-morta-em-vida, o nascimento
do Self-made baby, um arremedo de ser que tenta animar-se e
aplicar em si uma rêverie sui generis. Mais tarde, na análise, pela força
da compulsão à repetição, tal clichê estereotípico tenderá a se reencenar
na transferência: a desesperança de ontem estará novamente em cartaz
no setting. Essas ideias são desdobramentos de alguns ensaios a partir do
contato com a obra de André Green em comunhão com outros autores