RESUMEN
Este trabalho tem como objetivo propor reflexões sobre as repercussões da
pandemia de Covid-19 no aparelho psíquico a partir da obra de Freud. A
pandemia, situação disruptiva, é uma vivência traumática compartilhada,
porém as experiências individuais não podem ser negligenciadas. Seguindo
o pensamento de Freud em diferentes momentos da construção de sua teoria,
este artigo se propõe a discutir como cada sujeito lida com o desamparo
em tempos pandêmicos e quais são os caminhos possíveis para enfrentar
essa situação. O estudo da construção do Eu desde o desamparo primordial
fundamenta-se no pressuposto de que cada sujeito terá de, a partir de
uma história que lhe é específica e singular, construir recursos melhores ou
piores de Eu. Enquanto alguns apresentam-se como protagonistas, revelando
mais criatividade e recursos para lidar com as adversidades da vida,
outros, com um Eu mais frágil e com menos capacidade para enfrentar
situações dolorosas, sentem-se paralisados diante de vivências traumáticas.
Neste cenário pandêmico, no qual faltam referências simbólicas para tratar
a situação com coerência, questiona-se quem poderá ser o agente da ação
específica. O espaço da análise é entendido como um lugar de escuta fundamental.
Nele, o sujeito pode ser acompanhado por um outro mais experiente,
presente no processo de transformação para mitigar o impacto da
pulsão de morte quando ela fica precariamente fusionada à pulsão de vida