RESUMEN
A partir da concepção de temporalidade psíquica como a maneira pela
qual os processos psíquicos criam a sua própria gestão do tempo, e com
base no conceito de Fato Clínico Psicanalítico, o autor estuda as ilusões
e as desilusões em um grupo societário. Utiliza os desenvolvimentos
teóricos de John Steiner, Irma Pick e Ignês Sodré para apurar a experiência
emocional dos membros dos grupos societários, em que diferentes
gerações convivem juntas ao mesmo tempo: uma mais jovem, que conta
com ilusões para enfrentar os medos e as incertezas do futuro, e uma mais
antiga, que precisa lidar com o luto das perdas e as incertezas ocasionadas
pelas mesmas, fazendo com que, ao enfrentarem a dolorosa realidade
desta diferença, tentem aboli-la. Como resultado, ocorreria a perda da
autenticidade, baseada em alguma aceitação da realidade externa e
alguma aceitação de si próprio, e que originalmente fora resultado de
uma função alfa capaz de transformar o sofrimento emocional da criança
para a figura real da mãe. Neste sentido, advoga que o encontro com a
Based on the conception of psychic temporality as the manner in which psychic
processes create their own time management, and the concept of the Psychoanalytic
Clinical Fact, the author studies the illusions and disillusions in a social group. The
theoretical developments of John Steiner, Irma Pick and Ignês Sodré are utilized
to investigate the emotional experience of members of social groups in which
different generations live together in the same time period: one younger and with
illusions about facing fears and uncertainties of the future, and an older one who
must deal with the same uncertainties and mourn losses. When facing the painful
reality of this difference, they consequently try to abolish it. Loss of authenticity
would occur, based on some acceptance of external reality and some acceptance
of oneself, originally the result of an alpha function capable of transforming the
emotional suffering of the child into the real figure of the mother. In this sense,
the encounter with psychoanalysis is not only initially authentic, but a continuous
Psicanálise não seja só inicialmente autêntico, mas um processo contínuo
process
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
A presente investigação parte da tese de que O pai (2020), dirigido por
Florian Zeller, mais que um drama, é um peculiar filme de terror no qual é
possível elucidar diferentes elementos do conceito freudiano de Unheimlich
(o inquietante) pela forma como a velhice é desenvolvida ao longo da
narrativa audiovisual. Assim, para demonstrar essa hipótese, o artigo
investiga três aspectos que, dentro do filme, vão de ser Heimlich (familiar)
a Unheimlich: tempo, corpo e família. Tal tríade, dentro de O pai, é a base
para interpretar a velhice como uma experiência que tem como cerne o
Unheimlich, principalmente pela forma como o sujeito deve enfrentar o
The present investigation starts with the thesis that The Father (2020), directed
by Florian Zeller, is more than a drama; it is a singular horror film in which it is
possible to elucidate different elements of the Freudian concept of Unheimlich (the
uncanny) from the ways in which old age is developed throughout the audiovisual
narrative. To demonstrate this hypothesis, the article explores three aspects that,
within the film, go from being Heimlich (familiar) to Unheimlich: time, body
and family. Within The Father this triad is the basis for interpreting old age as an
experience that has Unheimlich at its core, mainly due to the manner in which the
fim da própria vida
subject must confront the end of ones own life
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
A partir de reflexões a respeito da passagem do tempo, a autora tece um
paralelo entre o mito de Sísifo na obra de Camus e a possibilidade de
Reflecting on the passage of time, the author draws a parallel between the myth of
Sisyphus in the work of Camus and the possibility of a contemporary psychoanalytic
uma visão psicanalítica contemporânea sobre o envelhecimento saudável
view of healthy aging
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
Aprender a envelhecer é difícil; envelhecemos de acordo com a forma
com que vivemos, entre sorrisos e lágrimas, sucessos e fracassos, ou
seja, desfrutar a velhice, suportá-la, é um desafio até a morte. Já existiram
tempos em que o ancião foi valorizado, por conter a memória familiar e
cultural; agora, por não integrarem a produção econômica e o consumo,
assim como por um certo desprezo pela memória, os velhos tendem a
ser relegados. Freud, aos setenta e nove anos, perguntou em uma carta
enviada à Lou Andreas-Salomé: Que grau de bondade e de humor tem
que se alcançar para suportar o horror da velhice? (Mannoni, 1997, p. 25).
Comento três palavras nessa pergunta: horror, bondade e humor. Estar
aprendendo a envelhecer é ser grato a vida e capaz de manter o espanto
diante das maravilhas do entardecer e amanhecer. Essenciais na velhice
são os amigos, que afastam a morte, como disse J.B. Pontalis em uma
entrevista sobre amizade à revista Veja. Para envelhecer é preciso ter
paciência, e paciência é a palavra que acrescento ao horror, gratidão e
humor com que Freud descreveu a velhice. Sejamos, assim, pacientes
Learning how to age is difficult; we age just as we live, between smiles and
tears, successes and failures. In other words, to enjoy old age, to endure it, is a
challenge until death. There were times when elders were valued for their family
and cultural memory; now, as they are not integrated into economic production
and consumption, as well as a certain contempt for memory, the elderly tend to
be relegated. At seventy-nine, Freud asked in a letter to Lou Andreas-Salomé:
What degree of kindliness and humor must one have to endure the horror of old
age? (Mannoni, 1997, p. 25). I comment on three words in this query: horror,
kindliness and humor. Learning to grow old is to be grateful for life and capable
of maintaining awe in the face of the wonders of dusk and dawn. Essential in old
age are friends, who ward off death, as J.B. Pontalis says in an interview with
Veja magazine on friendship. Growing old requires patience, and patience is the
word I add to horror, gratitude and humor with which Freud described old age. As
como analistas
analysts, may we therefore practice patience
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
A ciência é uma só. A questão central, hoje, é o enfrentamento complexidade
versus reducionismo, no qual a psicanálise tem contribuído mais do que
ela própria registra. A mudança de paradigma já ocorreu: este texto tenta
mostrar o que ocorre com a Psicanálise quando se adere a um novo
Paradigma da Complexidade. É esboçada a história de sua construção,
com o surgimento da cibernética como expressão da complexidade, e são
lembrados os pródromos da Biologia da Cognição e a proposta de serem os
seres vivos máquinas autopoiéticas, que constroem a si próprias, ou seja,
devem atender às leis da biologia. É discutido o lugar da psicanálise no
concerto das ciências, chegando à conclusão de ser de um novo tipo: uma
ciência complexa, como a física quântica e a termodinâmica de sistemas
fora do equilíbrio, daí não poder ser avaliada pelos critérios reducionistas de
Popper, sendo necessário criar um novo metro para medi-la. O que muda
na psicanálise, com o novo paradigma, é a inclusão da biologia, razão de
ser proposta uma Neurobiopsicanálise ou Psicanálise 2.0, reassegurado
que a Psicanálise 1.0 continua tão válida quanto a Mecânica Newtoniana
em relação à quântica. Ainda é lembrado o papel social da psicanálise
como promotora de mudanças fundamentais na cultura
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
A partir de uma caracterização sumária do Brasil e de parte dos seus
aspectos históricos, destacarei algumas contribuições que procuraram
entender sua formação como nação ou interpretar seu caráter nacional
para, em seguida, mencionar dados relevantes sobre a implantação e
o desenvolvimento da psicanálise em nosso país, oferecendo, ao final,
uma visão pessoal sobre o que tenho podido viver e observar desde que
ingressei no movimento psicanalítico, em 1976
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
A partir dos trabalhos de Lou Andreas-Salomé sobre os temas do
narcisismo e luto, procurou-se conhecer a sua compreensão sobre as
experiências de bloqueio criativo vividas pelo poeta Rainer Maria Rilke.
Este percurso permitiu uma aproximação da escrita produzida pela
autora, que atravessou diferentes estilos literários e acadêmicos a partir
de uma cronologia que seguiu suas experiências de vida e possibilitou
sua compreensão como uma escrita feminina. Em sua contribuição para
a teoria psicanalítica, foi realizado um recorte que focalizou os temas do
trabalho de luto, a partir da experiência de uma eterna construção do
objeto perdido, e do narcisismo, através da concepção do contínuo vir a
ser oriundo das regressões narcísicas. O aspecto atemporal de sua obra
também permitiu uma aproximação da teoria psicanalítica contemporânea
através do semiótico e do simbólico na linguagem poética e do tema do
narcisismo, ambos presentes na obra de Julia Kristeva
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
O presente texto propõe uma reflexão que parte da compreensão freudiana
sobre a transitoriedade e se amplia nos referenciais da antropologia
filosófica contemporânea. Toma de empréstimo, do pensamento de Martin
Buber, a noção de mansão cósmica e a experiência da intempérie para
apresentar os postulados que teriam precipitado o ser humano em uma
crise sobre si mesmo
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
Esse artigo analisa as aproximações políticas dos métodos psicanalítico
e artístico. Destaca os princípios da transferência e da atenção flutuante
como centrais do método da psicanálise. Em seus diálogos transferenciais
com o campo da arte contemporânea, sublinha suas perspectivas
políticas, dimensões discursivas e em atos na pólis. Transitando entre a
teoria psicanalítica e o campo da estética, o artigo propõe uma análise
das produções da cultura como criações que ultrapassam um tempo
e intencionalidades conscientes. Inspirado pela obra Reto do artista
contemporâneo Ai Weiwei, também apresenta uma reflexão acerca do ato
criativo e da obra, em analogia às formações do inconsciente. Desdobra a
concepção de sintoma de um tempo proposta por Georges Didi-Huberman
(2008/2010) e sublinha ainda a possibilidade de leitura das obras em
analogia ao conceito de Jacques Lacan (2005) de objeto a (objeto causa
de desejo). Ambas as ideias permitem sustentar um método de leitura das
obras que articule diferentes registros da experiência, assim como destaca
os seus enlaces com a pólis
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
O autor parte da ideia de que o paradigma estético da psicanálise
consiste em entender a experiência estética e sua palheta de emoções
como a primeira categoria de conhecimento na psicanálise, sucedida por
transformações simbólicas sucessivas que conduzem a pensamentos cada
vez mais abstratos. Considerando que várias contribuições basilares de
Freud partem de experiências estéticas intensas do criador da psicanálise,
o autor questiona se isso poderia constituir-se em uma intuição do
paradigma estético no modelo clássico da psicanálise
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
A estética do sublime e o conceito psicanalítico de sublimação, devidamente
revisitado, podem interagir de forma a se iluminarem mutuamente.
Obtemos, por um lado, uma profunda compreensão da essência da
experiência estética na arte e, por outro, uma visão mais convincente de
como se desenvolve o processo de se tornar sujeito. De fato, o primeiro
vislumbre de autoconsciência surge em uma dimensão puramente estética,
no sentido etimológico do termo, ou seja, em um espaço feito de sensações.
Este espaço, chamado de chora semiótica por Julia Kristeva, é, ao mesmo
tempo, dinâmico e intersubjetivo. Em outras palavras, embora seja tecido
de sensorialidade, não pode prescindir de uma moldura simbólica. Para
ilustrar esta área temática, o autor examina dois exemplos do sublime
contemporâneo, o filme de Kim Ki-duk, intitulado Pietà, e algumas obras
monumentais de Richard Serra
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
Nesse trabalho, proponho a hipótese de que o além não é um lugar
além de um limite de tempo e espaço, mas, na verdade, trata-se de uma
dimensão, uma intuição, uma experiência que ocorre na vida cotidiana e
que vemos quando vivemos com paixão. Essa experiência é sustentada por
uma nostalgia criativa, que se baseia na dimensão de pertencimento total
experimentada no útero e que nos impulsiona a procurá-la e a encontrá-la
ativamente na vida e no cotidiano. Mesmo no infinito para o qual tendemos,
tal experiência já está presente. É o que ainda não foi concluído e para o
qual, mesmo sem saber, podemos dar nossa contribuição criativa, como
acontece no período pré-natal, quando continente e conteúdo modificamse
mutuamente conforme o desenvolvimento e a vida. Essa condição
também se encontra no mundo externo, complexo e globalizado, para cujo
desenvolvimento podemos contribuir de forma ativa e responsável a partir
da convivência, vivendo nossa história, imersos em um todo invisível. Isso
só pode acontecer passando pela aceitação do limite da finitude e pela
elaboração do luto pela própria morte, que nos impede de projetá-la para
o exterior, permitindo-nos contribuir com criatividade e responsabilidade
para levar adiante e além a vida de todos
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
Tendo como ponto de partida o conto Quando a manhã luminosa, de
Clarice Kowacs, o autor se propõe a um exercício de sinceridade e
descreve as associações que lhe ocorreram durante a leitura. Ele sintetiza
tais associações em três palavras (desejo, morte e incompreensão) e,
transitando entre referências literárias e psicanalíticas, busca refletir sobre
seus significados particulares e universais
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
Ambientado em um tempo futuro, onde o humano e o tecnológico se
fundem, o conto traz complexos desdobramentos de questões próprias
da condição humana, a relação com a finitude e os vínculos interpessoais
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
O presente artigo é um comentário à nota de Jean Laplanche escrita entre
os anos de 1990-1991, na qual ele procura situar seus alunos de então a
respeito de suas posições sobre o conceito de Ego, o qual extensamente
estudava desde 1970. São destacados o ponto de vista econômico como
papel central na função do Ego e neste cenário, referenciando o seu
conceito de atividade tradutiva. É discutida a afirmação de Laplanche
sobre as derivações metonímicas e metafóricas do Ego, assim como a
relação delas com a ligação das pulsões. É também discutido o papel
da sexualização sobre o Ego-instância inicial, na transformação em Euindivíduo.
Uma proposição de diferenciação de nomenclatura entre o Egoinstância
e o Eu-indivíduo é trazida para estabelecer a diferenciação entre
um Superego primitivo, punitivo e acusatório e um Supereu resultado da
ação da atividade tradutiva. São introduzidas respostas iniciais para as
três perguntas que finalizam o texto de Laplanche sobre o Id, o ideal de
Eu, o Ego ideal e o Superego
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
O presente artigo busca resgatar o contexto, não apenas histórico, mas
também teórico, no qual foi escrito o texto de Jean Laplanche intitulado
Acerca da minha concepção do Eu. Ele destaca o caráter eminentemente
didático do texto, escrito para fins de esclarecimento, e sublinha alguns
pontos nevrálgicos tratados pelo autor, como é o caso da dupla derivação
do Eu e da teoria do apoio. Além disso, procura inserir uma questão que
se tornou polêmica, envolvendo a chamada atividade tradutiva, buscando
elementos no texto para subsidiar essa discussão
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
O autor propõe-se a discorrer sobre a sua concepção do Eu concernente
à Teoria de Sedução Generalizada. Contrário à concepção diferenciada
de self e Ego, toma o Eu como proveniente do contato primário das
necessidades biológicas do indivíduo com mensagens enigmáticas sexuais
provenientes do outro, constituindo-se em uma paraexcitação interna aos
resíduos inconscientes (objetos fonte da pulsão) decorrentes da tradução
parcial das referidas mensagens. O Eu assume e dinamiza os mecanismos
adaptativos do indivíduo biológico, além de lhes fornecer seus próprios
elementos intrínsecos de ligação, culturalmente adquiridos ao longo do
seu desenvolvimento
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
Analisa-se a intervenção proposta pelo Observatório Psicanalítico
Febrapsi (OP), estratégia clínico-política de escrita de psicanalistas, para
a elaboração secundária dos eventos que produzem o mal-estar atual ao
longo da pandemia do Coronavírus. Os textos são escritos no formato de
ensaios, de caráter autoral, reflexivo, expressando a experiência pessoal
dos autores com o acontecimento. No processo, identificam-se cinco
tempos: o Tempo Zero, aquele dos acontecimentos sociopolíticos, culturais
e institucionais que nos afetam; segue-se o Tempo Um, constituído pela
elaboração dos psicanalistas, por meio dos ensaios, avançando-se, então,
para a elaboração coletiva dialógica entre os pares, considerado o Tempo
Dois; em seguida, ocorre a elaboração da equipe de curadores na escrita
de editoriais, o Tempo Três; o Tempo Quatro caracteriza-se pelo acesso
do leitor a essas elaborações, por meio das mídias sociais utilizadas pelo
Observatório. Conclui-se que o OP é um modo institucional de exercício
de clínica extensa. No vértice de intervenção, vislumbra-se a possibilidade
de produzir efeitos nos diferentes sujeitos alcançados por essa estratégia
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
A crise pandêmica e as subsequentes experiências de confinamento vividas
por muitas pessoas são examinadas por três psicanalistas pelo viés dos
efeitos, tanto manifestos quanto latentes, que se fizeram sentir em suas
clínicas privadas. As dimensões de espaço, tempo e relações interpessoais,
tidas como constituintes dos vínculos básicos que sustentam o sentimento
de identidade, foram escolhidas como balizas organizadoras do material
apresentado. A dimensão do espaço é abordada através das variações das
representações de casa que se fizeram presentes no trabalho associativo
em análise: a casa em suas dimensões de concentração, verticalidade
e horizontalidade; a casa acolhedora, protetora, invadida, aprisionante,
arruinada, reparada, reformada, ampliada, magnífica, portadora de
vestígios do passado, projeto de futuro. O tempo é abordado em seus
aspectos de enquadramento da situação analítica, na variedade que
imprime às experiências subjetivas, e também como elemento temático do
material associativo produzido em análise. As relações interpessoais são
abordadas, principalmente, pela perspectiva dos efeitos da pandemia e do
confinamento sobre as relações transferenciais-contratransferenciais na
situação de análise remota. Ao final, são propostas hipóteses interpretativas
sobre duas atitudes opostas: a arrogância negacionista e a obsessividade
nos cuidados e precauções, sugerindo que ambas são decorrentes de
fantasias infantis de onipotência