ABSTRACT
Nas sociedades contemporâneas, marcadas pela valorização da saúde e pela medicalização, a mídia tem exercido papel central na construção do discurso do risco e na influência à eventual adoção de medidas preventivas pelos sujeitos. Esta tese analisa a cobertura d'O Globo e da Folha de S.Paulo acerca da circuncisão masculina, da PEP (profilaxia pós-exposição ao 111V), da PrFP (profilaxia pré-exposição ao 111V) e do TasP (tratamento como prevenção) como métodos preventivos ao 111V, desde o surgimento de cada um deles nos jornais até 31/12/2017. Empreendemos dois movimentos de análise. No primeiro, observamos: os jornalistas assinantes, as fontes mais ouvidas, os recursos gráficos mais utilizados, a quantidade de textos por método e sua distribuição no tempo, o tamanho médio dos espaços ocupados e a menção a outros métodos preventivos. Observamos somente para a PrEP: as editorias nas quais foi publicada, as chamadas de capa e a autoria dos textos opinativos. Em um segundo movimento de análise, sob o aporte da Análise de Discurso (Pêcheux e Orlandi), investigamos como a lógica do risco manifesta-se na cobertura d'O Globo acerca da PrEP, visando: a) identificar e problematizar o papel desempenhado pelo conceito de risco nas explicações sobre a epidemia, na definição das populações mais vulneráveis e na atribuição de responsabilidades individuais e coletivas na narrativa jornalística; b) mapear e contextualizar as principais questões priorizadas na cobertura e, por consequência, as silenciadas. Identificamos nos jornais um silenciamento sobre os métodos preventivos, marcado pelo baixo quantitativo de textos
A cobertura é motivada mais pelo ritmo das descobertas científicas e das ações dos organismos internacionais e estatais ligados à aids, em detrimento das ações, críticas e anseios dos movimentos sociais, dos profissionais do serviço público de saúde e das pessoas comuns, e a despeito dos interesses da indústria farmacêutica. Ao ouvir mais os representantes do saber especializado, os jornais privilegiam os sentidos por eles atribuídos ao risco e à aids. Na cobertura d'O Globo sobre a PrEP, o discurso do risco dá-se não pela retórica do pânico e do medo, que marcou o tom da imprensa no início da epidemia, mas por outras estratégias discursivas que incutem a responsabilidade individual pela saúde e que, portanto, culpabilizam o sujeito pela continuidade da epidemia, sobretudo aquele que se enquadra nas "populações-chave", por vezes também ainda designadas de 'grupos de risco"
Essa responsabilização individual dá-se em meio ao contexto neoliberal e de capitalismo de consumo, no qual convivem restrições ao orçamento público no enfrentamento à epidemia, ao lado do fomento a certo mercado, precipuamente de tecnologias biomédicas e farmacêuticas, que une o indivíduo responsável ao indivíduo consumidor sobretudo de produtos que dialogam com seu prazer. Entretanto, também identificamos n'0 Globo discursos contra-hegemônicos, ligados à ideia de vulnerabilidade, que apontam para responsabilidades também coletivas no enfrentamento à epidemia e que questionam a excessiva biomedicalização da aids, entendida pelo fomento a métodos biomédicos preventivos como "balas mágicas" para solucionar esse problema de saúde pública, sem investimento em políticas que combatam as determinações sociais dele. (AU)
Subject(s)
Humans , Risk , Acquired Immunodeficiency Syndrome , HIV , Journalism , Scientific Communication and Diffusion , Communications Media/trendsABSTRACT
SiCKO é um documentário de Michael Moore que critica o sistema de saúde dos Estados Unidos da América e apresenta como negociatas políticas e lobbying de seguradoras de saúde e empresas farmacêuticas mantêm um sistema que trata saúde como mercadoria, martirizando vidas em nome do lucro. O exemplo de outros países que adotaram a medicina socializada serve para mostrar uma proposta alternativa de saúde, entendida como um direito de todos, financiado solidariamente pela sociedade e garantido através de políticas públicas e práticas eficazes...
SiCKO is a Michael Moores documentary that criticizes the United States health system and shows howpolitical bargaining and lobbying from health insurers and pharmaceutical companies created a system thattreats health as a commodity, martyring lives to earns profits. The comparison with other countries thathave adopted socialized medicine, highlights an alternative health care proposal, that understands it as acitizens right, jointly funded by society and guaranteed by effective public policies and practices...
Sicko es un documental de Michael Moore que critica el sistema de salud de los Estados Unidos, que noslleva a comprender cómo la negociación política y cabildeo de las aseguradoras de salud y compañíasfarmacéutica han creado un sistema que trata a la salud como una mercancía, torturando vidas para obtenerganancias. El ejemplo de otros países que han adoptado la medicina socializada demostra una propuestaalternativa de atención de salud, entendida como un derecho de todos, financiado conjuntamente por laempresa y garantizado por las políticas y prácticas públicas eficaces...