ABSTRACT
Ao longo da primeira década do século XXI o crânio de uma mulher escavado em Lagoa Santa, Minas Gerais, tornou-se um ícone científico e cultural no Brasil. 'Luzia', como ficou conhecida a peça, é tida como um dos mais antigos remanescentes ósseos humanos das Américas, com aproximadamente 11.500 anos. São analisados aqui discursos e representações sobre e em torno dessa peça pré-histórica. Situado entre os domínios da natureza e da cultura, o espécime foi transubstanciado em um indivíduo dotado de características pessoais próprias, além de relacionado aos debates sobre a ancestralidade biológica e cultural do povo brasileiro. Exploram-se as apropriações socioculturais sobre Luzia, que envolvem questões relativas a disputas científicas sobre primazias e temporalidades na ocupação do continente americano, assim como representações da pré-história. Em particular, argumenta-se que os debates em torno do crânio se situam na interface entre raça, ciência e sociedade no Brasil contemporâneo.