ABSTRACT
Resumo Este artigo pretende analisar a morbimortalidade da Covid-19 no Brasil, segundo quesito raça/cor, problematizando o conceito de raça como estruturante para uma atenção equânime na pandemia. Trata-se de uma pesquisa exploratória e reflexiva, com análise de 43 boletins epidemiológicos e 15 artigos selecionados a partir de uma revisão narrativa de literatura. Discutimos elementos concernentes à epidemiologia social crítica, interseccionalidade e necropolítica, ante as iniquidades em saúde. Os resultados apontam que numa sociedade interseccionalizada por racismo, sexismo e pobreza, o risco, a incidência e a mortalidade da doença são socialmente desiguais, haja vista a população negra, pobre e periférica, apresentar maiores índices epidemiológicos. Desvela-se um Estado com tecnologias necropolíticas governamentais, sendo a pandemia mais um modus de produzir a morte. Conclui-se evocando a insurgência de uma epidemiologia complexa da Covid-19, aliando políticas de saúde à proteção social e ao desenvolvimento econômico.
Abstract This article aims to analyze the morbimortality of COVID-19 in Brazil, according to race/color aspects, problematizing the concept of race as a structuring factor for equitable care in the pandemic. Exploratory and reflective research, with analysis of 43 epidemiological bulletins and 15 articles selected from a narrative literature review. We discuss elements concerning critical social epidemiology, intersectionality, and necropolitics, in the face of health inequities. The results indicate that in a society intersected by racism, sexism, and poverty, the risk, incidence, and mortality of the disease are socially unequal, given that the black, poor, and peripheral city population has higher epidemiological indices. A State with necropolitical technologies is revealed, with the pandemic being another modus to produce death. It concludes by evoking the insurgency of a complex epidemiology of COVID-19, combining health policies with social protection and economic development.
ABSTRACT
Resumo Este artigo é um ensaio que visa compreender as intersecções entre racismo, capitalismo e a crise social/sanitária da fome e insegurança alimentar que assola o Brasil no contexto posterior à pandemia de covid-19. Para tal, são utilizados os conceitos de nutricídio e racismo alimentar, aproximando-os das concepções de necropolítica e genocídio da população negra, em um entendimento que o Estado deixa de dar condições de segurança alimentar às populações marginalizadas. Isso ocorre, especialmente, nas regiões periféricas das grandes cidades, cujas populações, em sua maioria, são negras, e se tornam vítimas de uma lógica de "deixar morrer" e gerar morte desses segmentos com políticas públicas excludentes e/ou potencialmente danosas à alimentação e à nutrição humanas. A aproximação entre saúde coletiva, fome e racismo é potencialmente geradora de subsídios para a elaboração de políticas de saúde, alimentação e assistência social, sendo, ao mesmo tempo, produtora de um território de estudos e pesquisas no campo da alimentação, nutrição e saúde.
Abstract This essay aims to comprehend the intersections between racism, capitalism, and the social and health crisis of hunger and food insecurity that plagues Brazil in the context after the COVID-19 pandemic. For this, it uses the concepts of nutricide and food racism a, bringing them closer to the concepts of necropolitics and the genocide of the Black population in an understanding that the State fails to provide food security conditions to marginalized populations, especially peripheral ones in large municipalities, mostly Black people, under a logic of letting die and generating death of these segments by excluding public policies and/or potentially harmful policies to human nutrition. The approximation between public health, hunger, and racism may subsidize the elaboration of health, food, and social assistance policies, creating, at the same time, a territory of study and research in the field of food, nutrition, and health.