ABSTRACT
Na perspectiva dos direitos humanos à saúde e aos benefícios do progresso científico, o artigo analisa o arcabouço jurídico-institucional e argumentativo da avaliação e incorporação de novas tecnologias nos sistemas de saúde, como essencial na garantia do acesso a medicamentos. Com base na revisão documental e na literatura internacional e brasileira, investigou-se o arcabouço internacional em confronto com o brasileiro, com foco na repercussão e compatibilização dos fatos técnicos e científicos (razões extrassistemáticas) com os enunciados jurídicos (razões sistemáticas) na efetivação desses direitos. Constatou-se, no âmbito local e global, o predomínio de uma concepção que prioriza a eficiência econômica e sustentabilidade dos sistemas de saúde, em detrimento à visão ética e política da incorporação das inovações farmacêuticas como um direito humano, fundamentado na solidariedade, justiça social e equidade. No âmbito nacional, houve avanços na institucionalização do processo de incorporação e avaliação, com critérios e parâmetros legais semelhantes a outros países e compatíveis com as recomendações sanitárias internacionais. As fragilidades nacionais observadas foram as flexibilizações de critérios legais na prática da incorporação que elevam o ônus probatório técnico-científico dos cidadãos para o encaminhamento dos pedidos; a ampliação e priorização de elementos econômicos e orçamentários na análise; e a ausência de previsão de participação de representantes de usuários no processo avaliativo. Conclui-se que a principal tensão nas normas e práticas analisadas com os direitos humanos é a priorização de razões predominantemente econômicas, financeiras e orçamentárias, em detrimento aos benefícios potenciais comprovados para a saúde de inovações farmacêuticas. Nesse sentido, o arcabouço analisado compromete a efetivação dos direitos humanos nas políticas de atenção à saúde, com prejuízos significativos no acesso justo e igualitário às inovações terapêuticas.
From the perspective of the human right to health and to access the benefits of scientific progress, this article examines the legal, institutional and argumentative structure framing the assessment of new technologies and their and incorporation into health systems, as key to guaranteeing access to medicines. The international and Brazilian frameworks were investigated and contrasted by way of a review of documentation and of the international and Brazilian literature, focusing on the repercussions of technical and scientific facts (extrasystemic reasons) on legal statements (systemic reasons), and related reconciliation, in assuring those rights. The locally and globally conceptions werefound to predominate, favouring health systems' economic efficiency and sustainability to the detriment of an ethical and political approach to incorporating pharmaceutical innovations as a human right grounded in solidarity, social justice and equity. Brazil has advanced in the process of evaluating and incorporating new medicines by introducing legal criteria and parameters similar to those of other countries and compatible with international health recommendations. The fragilities observed were instances of increasingly flexible legal criteria for the practice of incorporation, which impose a heavier onus of technical and scientific proof on citizens filing applications; the introduction and ampliation of economic and budget elements into the analyses; and the lack of any provision for user representative participation in the evaluation process, which is so highly valued in other countries. It was concluded that the main tension between the norms and practices examined and human rights is that priority isgiven to economic, financial and budget considerations over the proven potential health benefits of pharmaceutical innovations. In that respect, the framework examined undermines efforts to assure human rights in health care policies, thus significantly impairing fair and equal access to therapeutic innovations locally and globally.
Adoptando la perspectiva de los derechos humanos a la salud y de gozar de los beneficios del progreso científico, el artículo analiza el marco jurídico-institucional y argumentativo de la evaluación e incorporación de nuevas tecnologías en los sistemas de salud, como imprescindibles para garantizar el acceso a los medicamentos. Con base en la revisión documental y en la literatura internacional y brasileña, se investigó el marco internacional en comparación con el brasileño, enfocándose en la repercusión y compatibilidad de los hechos técnicos y científicos (razones extrasistemáticas) con los enunciados legales (razones sistemáticas) en la realización. de estos derechos. A nivel local y global, predominó una concepción a favor de la eficiencia económica y lasostenibilidad de los sistemas de salud, en detrimento de la visión ética y política de la incorporación de las innovaciones farmacéuticas como derecho humano, basado sobre solidaridad, justicia social y equidad. A nivel nacional, se avanzó en la institucionalización del proceso de incorporación y evaluación, con criterios y parámetros legales similares a los de otros países y compatibles con las recomendaciones internacionales de salud. Las debilidades nacionales observadas fueron la flexibilización de criterios legales en la práctica de la incorporación, lo que aumenta la carga probatoria técnico-científica de la ciudadanía para el envío de solicitudes; la ampliación y priorización de elementos económicos y presupuestarios en el análisis; y la falta de disposiciones para la participación de representantes de los usuarios en el proceso de evaluación. Se concluye que la principal tensión en las normas y prácticas analizadas con los derechos humanos es la priorización de razones predominantemente económicas, financieras y presupuestarias, en detrimento de los probables beneficios potenciales para la salud de las innovaciones farmacéuticas. En este sentido, el marco analizado compromete la realización de los derechos humanos en las políticas de salud, con un daño significativo al acceso justo e igualitario a las innovaciones terapéuticas.