RESUMO
INTRODUÇÃO: A cross-estimulação é um evento raro que é definido pela ocorrência da estimulação de uma câmara cardíaca quando se espera que outra câmara seja estimulada. Familiarizar-se com a cross-estimulação é um passo fundamental para se evitar o diagnóstico incorreto e a abordagem inadequada. DESCRIÇÃO DO CASO: Paciente 66 anos, masculino, portador de marcapasso bicameral programado em DDD, com histórico de limiar de captura atrial elevado, comparece em consulta de rotina de telemetria assintomático, porém apresentando episódios de captura ventricular intermitente após estimulação pelo eletrodo atrial. Testes de sensibilidade evidenciaram ritmo atrial sinusal com bloqueio atrioventricular total sem escape ventricular. Durante teste de limiar de captura atrial em unipolar, foi observado que, para uma largura de pulso de 1,0ms, uma voltagem acima de 2,0mV apresentava captura ventricular com diferente morfologia do QRS estimulado pelo eletrodo ventricular e com uma voltagem abaixo de 1,5mV era incapaz de capturar o átrio. Análise em bipolar apresentou evento semelhante em diferentes limiares. Radiografia torácica mostrou implante de eletrodo atrial em anel tricuspídeo, sendo confirmada a ocorrência de cross-estimulação do ventrículo por eletrodo atrial. Visto que o paciente não apresentava necessidade de estimulação atrial, optou-se por reprogramar para VDD. CONCLUSÃO: A cross-estimulação ocasionada pela estimulação ventricular por um eletrodo atrial implantado no anel tricuspídeo, próximo ao miocárdio ventricular, pode se apresentar tardiamente em decorrência do aumento do limiar de captura atrial, o que deve nos motivar a buscar ativamente a ocorrência desse evento com a estimulação com alta energia durante o implante. Dependendo da necessidade de estimulação atrial e da presença de margem de segurança entre o limiar de captura atrial e ventricular pelo eletrodo atrial, a abordagem mais adequada pode ser a reprogramação, em vez de intervenção cirúrgica.
Assuntos
Marca-Passo Artificial , Estimulação Cardíaca Artificial , Bloqueio AtrioventricularRESUMO
INTRODUÇÃO: As doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de mortalidade global e, dentre elas, destaca-se a doença arterial coronariana (DAC), cujos diagnóstico precoce e prevenção ainda continuam sendo a melhor forma de tratamento. O conhecimento do perfil clínico e angiográfico dos pacientes portadores de DAC é extremamente importante para a avaliação de risco, a partir da quantificação da extensão e gravidade da doença, assim como para o planejamento terapêutico e sucesso do tratamento. O nosso objetivo foi avaliar o perfil clínico e angiográfico dos pacientes submetidos a exame diagnóstico de cineangiocoronariografia em centro clínico de alto volume. MÉTODOS: Foi realizado um estudo retrospectivo e descritivo do perfil clínicoangiográfico dos pacientes maiores de 18 anos submetidos à cineangiocoronariografia diagnóstica em serviço terciário de janeiro de 2011 a dezembro de 2018, excluindo os pacientes com cirurgia de revascularização prévia e doença valvar associada. Os dados foram obtidos por meio de um banco de dados institucional. Resultados: Um total de 25649 pacientes foram incluídos, sendo 59,4% do sexo masculino, com média das idades de 66,1 anos. Os fatores de risco cardiovascular mais encontrados foram: hipertensão arterial sistêmica (80,5%), dislipidemia (60,5%), diabetes mellitus (32,3%), tabagismo (40,9%) e doença renal crônica (21,5%). O quadro clínico era de angina estável em 32,5%, síndrome coronariana aguda (SCA) sem supra de ST em 20,4% incluindo SCA com supra de ST em 6,1%, e isquemia silenciosa/assintomáticos em 37,5%. A doença arterial coronariana obstrutiva significativa (>50%) foi uni-, bi- ou triarterial em, respectivamente, 25,7%, 17,5% e 12,22%, além do tronco da a. coronária esquerda em 1,4%. A partir do exame diagnóstico, a intervenção coronária percutânea (ICP) foi realizada em 14,7% dos pacientes, predominantemente naqueles com apresentação clínica de SCA. Os vasos coronários mais tratados foram a. descendente anterior em 40,9%, a. coronária direita em 29,5% e a. circunflexa em 23,2%. O sucesso angiográfico foi evidenciado em 99,2% dos casos. Em relação aos desfechos clínicos na fase intra-hospitalar, foi reportada a ocorrência de óbito em 0,3% dos pacientes. CONCLUSÃO: A população estudada apresentou elevada prevalência de fatores de risco cardiovascular e de doença coronariana obstrutiva significativa. Os pacientes submetidos a ICP subsequente apresentaram elevadas taxas de sucesso no procedimento. (AU)
Assuntos
Humanos , Doenças Cardiovasculares , Cineangiografia , RiscoRESUMO
INTRODUÇÃO: Apesar do avanço dos métodos de imagem, o diagnóstico diferencial entre Amiloidose Cardíaca (AC) e Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH) em alguns casos, é complexo, por ambas as doenças caracterizarem-se, principalmente, por hipertrofia ventricular esquerda (HVE). O diagnóstico diferencial entre estas duas condições é de fundamental importância, já que o manejo clínico é diferente e hoje dispomos de tratamento específico para AC. Descrevemos caso de AC encaminhado a serviço terciário com diagnóstico de CMH. RELATO DE CASO: Homem, 66 anos, negro, apresentando dispneia aos moderados esforços, ortopneia, episódios de síncope e história familiar de morte súbita. Ecocardiograma trazido pelo paciente mostrava espessura do septo de 17mm e da parede posterior de 13mm, cavidades cardíacas de dimensões normais e função ventricular preservada. Submetido à ressonância magnética que mostrou aumento da espessura do septo e realce tardio mesocárdico equivalente a 15,5% de massa do ventrículo esquerdo. Holter evidenciou taquicardia ventricular não sustentada. Foi considerado implante de cardiodesfibrilador implantável. Eletrocardiograma (ECG) apresentava baixa voltagem no plano frontal, achado pouco usual na CMH. Por este achado do ECG, foi solicitada cintilografia com pirofosfato marcado com Tecnécio, sugestiva de AC. Ecocardiograma realizado na sequência era estruturalmente compatível com CMH, mas o strain evidenciou "apical sparing" achado típico de AC. A análise molecular do gene TTR mostrou mutação p.Val142Ile e a biópsia endomiocárdica evidenciou depósito que corou positivamente por Vermelho Congo. DISCUSSÃO: Hipertensão Arterial e CMH são as causas mais frequentes de HVE, mas antes devem ser afastadas patologias que têm tratamento específico, como AC e Doença de Fabry. Os métodos de imagem podem sugerir estes diagnósticos, mas a análise conjunta de todos os exames pode ser fundamental, como no presente caso, quando as alterações do ECG foram determinantes. O diagnóstico de Amioloidose Transtirretina Familiar abre a possibilidade de tratamento dirigido à doença de base e possível redução de mortalidade e hospitalizações. CONCLUSÃO: A AC deve ser pensada como diagnóstico diferencial frente ao achado de HVE. Casos com diagnóstico prévio de CMH devem ser reanalisados, pela possibilidade de erro diagnóstico e permitir tratamento específico a alguns pacientes. A disponibilidade de métodos diagnósticos sofisticados não deve levar à desvalorização de exames poucos dispendiosos, como o ECG, que foi elemento-chave para o diagnóstico neste caso. (AU)
Assuntos
Humanos , Cardiomiopatia Hipertrófica , AmiloidoseRESUMO
INTRODUÇÃO: A APPE é uma avaliação médica ampla, sistemática e uniforme visando a detecção de fatores de risco e doenças cardiovasculares , no intuito de definir objetivamente eventuais restrições e a prescrição correta de exercícios. Descrevemos caso de paciente assintomático sem APPE prévia, que, durante prática esportiva, evoluiu com evento cardiovascular grave. DESCRIÇÃO DO CASO: Paciente EAA, masculino, 40 anos, sem comorbidades conhecidas, assintomático, sem fatores de risco para doenças cardiovasculares conhecidos. Durante prática esportiva recreativa (futebol society) apresentou quadro de perda de consciência, sendo encaminhado ao pronto socorro de hospital terciário em cerca de 10 minutos. À admissão, foi diagnosticada fibrilação ventricular (FV), sendo realizada desfibrilação imediata e demais medidas de ressuscitação cardiopulmonar (RCP). O paciente apresentou retorno da circulação espontânea (RCE) após 20 minutos de PCR, sendo identificado no Eletrocardiograma (ECG): ritmo sinusal com bloqueio de ramo esquerdo presumidamente novo (critérios de Sgarbossa positivos). Apresentou nova PCR em FV com 25 minutos de duração. Realizou cateterismo cardíaco (CATE), com tempo porta-balão de 60 min, durante o qual foi identificada oclusão total da artéria descendente anterior (DA) em terço médio após origem do segundo ramo diagonal. Demais coronárias com discretas irregularidades parietais. Lesão tratada com implante de stent farmacológico, com presença de fluxo TIMI 3 após o procedimento. Ecocardiograma transtorácico após a angioplastia mostrou fração de ejeção do ventrículo esquerdo de 50%, com acinesia do ápice e dos segmentos distais do septo interventricular e parede anterior. Ausência de derrame pericárdico. O paciente foi encaminhado à unidade coronariana sedado, em ventilação mecânica, com reversão do BRE ao ECG. Ao longo da internação apresentou despertar agitado sem sedação, não contactuante, sendo transferido, a pedido da família, para outro serviço para seguir acompanhamento, onde continua até o momento em cuidados de neuro-intensivismo em melhora gradual do quadro clínico. CONCLUSÃO: O caso levanta a importância da APPE para o esportista. A APPE pode ainda avaliar a capacidade aeróbica do esportista por meio de provas funcionais, contribuindo para a prescrição correta da atividade física. Reforça ainda a importância do treinamento da população em geral em RCP e da presença de desfibriladores em locais de prática esportiva. (AU)
Assuntos
Humanos , Atletas , Parada Cardíaca , FutebolRESUMO
Lithopedion (litho = piedra, pedion = niño), es el término utilizado para describir un feto intrabdominal calcificado. Es un evento raro, con aproximadamente 300 casos descritos en la literatura internacional. Este artículo trata del caso de una mujer de 84 años con dolor abdominal, donde se evidenció en el examen físico, una masa abdominal de consistencia pétrea, con dimensiones de 23 cm de altura y 32 cm de longitud. El examen radiológico del abdomen reveló la presencia de imagen de densidad ósea, sugiriendo la existencia de un feto abdominal calcificado. La tomografía computarizada confirmó tratarse de un litoquelifopedion de 29-30 semanas, con aproximadamente 44 años de evolución.
Lithopedion (litho = stone, pedion = child) is the term used to describe an intra-abdominal calcified fetus. In the international literature, about 300 cases were described. In this case, an 84-year old woman was admitted with abdominal pain and the abdominal physical examination showed a mass with hard consistency with 23 cm height and 32 cm width. The abdominal x-ray examination showed the presence of bone density image suggesting an intra-abdominal calcified fetus. The computer tomography confirmed that it was a litoquelifopedion of 29-30 weeks of pregnancy and with about 44 years of evolution.