RESUMO
A atenção em saúde mental voltada às populações rurais é um problema enfrentado em escala mundial, no entanto, está ausente das principais políticas públicas voltadas ao bem-estar social. Embora alguns avanços tenham ocorrido no país com a implantação da Política Nacional de Saúde Mental e com a mudança paradigmática, prática e ética advinda com o referencial da Atenção Psicossocial, as especificidades socioterritoriais e culturais que marcam os contextos rurais ainda não fazem parte do escopo dessas políticas. Assim, objetiva-se discutir os principais desafios para o cuidado em saúde mental identificados por profissionais que compõem equipes de referência para assentamentos de reforma agrária. Para tanto, entrevistou-se 53 profissionais de saúde e da assistência social responsáveis pela cobertura de oito assentamentos rurais. Identificamos que os desafios se referem à constituição de redes de saúde conectadas aos territórios; à consolidação da atenção primária como principal estratégia de cuidado; à construção de práticas na perspectiva da integralidade; à implementação de articulações intersetoriais que atendam à complexidade das demandas da população e, por fim, de oportunidades de Educação permanente para os trabalhadores, de modo que levem em conta as particularidades desses contextos e dos modos de vida da população rural.
Mental health care for rural populations is a problem faced on a global scale, however, it is absent from major public policies aimed at social welfare. Although some advances have occurred in the country with the implementation of the National Mental Health Policy and with the paradigmatic, practical and ethical change arising from the referential of Psychosocial Attention, the socio-territorial and cultural specificities that mark the rural contexts are not yet part of the scope of these policies. Thus, the objective is to discuss the main challenges for mental health care identified by professionals who make up reference teams for agrarian reform settlements. For this purpose, 53 health and social care professional responsible for the coverage of eight rural settlements were interviewed. We identified that the challenges refer to the establishment of health networks connected to the territories; the consolidation of primary care as the main care strategy; the construction of practices from the perspective of completeness; the implementation of intersectoral articulations that meet the complexity of the population's demands and, finally, opportunities for permanent education for workers, so that they take into account the particularities of these contexts and the ways of life of the rural population.
Assuntos
Apoio Social , Saúde Mental , Psicologia Social , População Rural , Seguridade Social , Reabilitação PsiquiátricaRESUMO
Este estudo objetiva destacar as principais abordagens em torno da categoria vulnerabilidade e problematizar a maneira como vêm sendo utilizadas no campo da saúde e assistência social. Realizou-se revisão não sistemática da literatura e posterior análise discursiva das publicações selecionadas. O conceito de vulnerabilidade na saúde coletiva é usado no intuito de superar os limites da categoria risco, evidenciando a determinação social do processo saúde-doença-cuidado. No campo das ciências humanas e sociais, é associado a grupos privados de recursos materiais e simbólicos e/ou em situação de marginalização, exclusão e insegurança social. Tanto no âmbito da saúde quanto da assistência social, observou-se que há uma tendência ao reducionismo, naturalização e individualização dos processos de vulnerabilização das populações.
This study aims to highlight the main approaches around the vulnerability category and to problematize the way they have been used in the field of health and social assistance. A non-systematic review of the literature and subsequent discursive analysis of the selected publications were carried out. The concept of vulnerability in collective health is used in order to overcome the limits of the risk category, evidencing the social determination of the health-disease-care process. In the field of human and social sciences it is associated with private groups of material and symbolic resources and/or in situations of marginalization, exclusion and social insecurity. In terms of both health and social assistance, it has been observed that there is a tendency towards reductionism, naturalization and individualization of the processes of vulnerability of populations.
Este estudio tiene como objetivo destacar los principales abordajes en torno a la categoría vulnerabilidad y problematizar la manera en que vienen siendo utilizadas en el campo de la salud y asistencia social. Se realizó una revisión no sistemática de la literatura y posterior análisis discursivo de las publicaciones seleccionadas. El concepto de vulnerabilidad en la salud colectiva es usado con el fin de superar los límites de la categoría de riesgo, evidenciando la determinación social del proceso salud-enfermedad-cuidado. En el campo de las ciencias humanas y sociales se asocia a grupos privados de recursos materiales y simbólicos y/o en situación de marginación, exclusión e inseguridad social. Tanto en el ámbito de la salud y de la asistencia social, se observó que existe una tendencia al reduccionismo, naturalización e individualización de los procesos de vulnerabilidad de las poblaciones.
Assuntos
Serviço Social , Vulnerabilidade Social , Psicologia Social , Política Pública , Processo Saúde-Doença , Organização Social , Atenção à Saúde , Empatia , Vulnerabilidade em Saúde , Sistemas de Apoio PsicossocialRESUMO
This theoretical paper aims to examine some of the interfaces between rural settings and the field of mental health. First, living conditions in rural regions will be discussed, exploring rurality from a perspective of vulnerability and its impact on psychological health. Next, we will expand this approach by analyzing other analytical perspectives, namely Judith Butler's (2018) essay on the precariousness of life and Mbembe's (2018) necropolitics. Finally, this paper seeks to contribute to research on the living conditions and mental health of rural populations, and to promote territorial practices. Consideration will also be given to the specific lifestyles and needs of this community - without disregarding deteriorating conditions of inequality and insecurity arising from the conservative political discourse underway in our society.
O presente texto, de cunho teórico, objetiva discutir algumas interfaces entre contextos rurais e o campo da saúde mental. Inicialmente problematizamos as condições de vida no meio rural, chamando atenção para as ruralidades, e operando a partir do conceito de vulnerabilidade e seus rebatimentos na saúde mental. Em seguida, ampliamos essa discussão abrindo diálogo com outras perspectivas analíticas, a exemplo da discussão aportada por Judith Butler sobre a precarização da vida e da necropolítica de Mbembe. Por fim, pretendemos contribuir com as investigações que buscam entender as condições de vida e saúde mental das populações rurais e subsidiar práticas de cuidado territorializadas, considerando as especificidades dos modos de vida e necessidades dessas populações e atentando para o agravamento das condições de iniquidade e desproteção decorrentes de um projeto político conservador em curso em nossa sociedade.
El presente texto se propone discutir algunas interfaces entre los contextos rurales y el campo de la salud mental. Inicialmente, problematizamos las condiciones de vida en el medio rural, llamando atención sobre las diferentes ruralidades, y operando a partir del concepto de vulnerabilidad y sus impactos en la salud mental. A continuación, ampliamos esa discusión abriendo el diálogo a otras perspectivas analíticas, por ejemplo la discusión aportada por Judith Butler sobre la precarización de la vida y la necropolítica de Mbembe. Por último, pretendemos contribuir a las investigaciones que buscan entender las condiciones de vida y salud mental de las poblaciones rurales y aportar a prácticas de cuidado territorializadas, considerando las especificidades de los modos de vida y de las necesidades de esas poblaciones, y alertando sobre el agravamiento de las condiciones de inequidad y desprotección que se derivan de un proyecto político conservador en curso en nuestra sociedad.
Assuntos
População Rural , Zona Rural , Saúde Mental , Vulnerabilidade Social , BrasilRESUMO
Resumo Moradores de assentamentos de reforma agrária têm uma vida marcada por condições de vida e trabalho precárias, que, aliadas às barreiras no acesso às políticas e programas de saúde e assistência social, agravam as situações de vulnerabilidade que impactam a saúde mental. Este trabalho pretende discutir o cuidado desenvolvido por equipes de saúde e assistência social referente às demandas de saúde mental de assentados do Rio Grande do Norte, Brasil. Foram entrevistados 53 profissionais de forma individual ou por grupo de diferentes categorias profissionais. Para a análise dos resultados utilizou-se a Análise de Conteúdo como proposta para categorização dos dados. Resultados indicam que os trabalhadores vivenciam condições precárias de trabalho e que as equipes têm pouco conhecimento do território e das necessidades de saúde mental. O cuidado implementado ainda corresponde à lógica biomédica, com pouca participação dos moradores e desconsideração dos saberes e práticas de cuidado tradicionais. A atenção psicossocial não funciona de forma articulada apresentando problemas quanto ao seguimento e à continuidade de cuidados. Em função do desconhecimento das especificidades da população assentada e da fragmentação da rede de atenção psicossocial, essas equipes não conseguem acolher e responder às necessidades em saúde mental de modo a interferir nas iniquidades em saúde....(AU)
Abstract Dwellers of agrarian reform settlements have a life conditioned by poor living and work conditions; they have difficulties accessing health programs, social assistance and other public policies and this exacerbate their vulnerability, which has an impact on their mental health. This research investigates the care given by the health and social assistance staff, regarding the mental health demands of rural settlements of Rio Grande do Norte, Brazil. 53 experts from different professional categories were interviewed individually or in groups. For the analysis of the results we used the Content Analysis as a proposal for categorization of data. TR results indicate that the workers experience poor working conditions and that staff has little knowledge of the local conditions and of the mental health needs. The implemented health care still corresponds to the biomedical logic, with little participation of the dwellers, disregarding the traditional knowledge and practices of local health care. The psychosocial care is not well coordinated, presenting problems with follow-up and continuity. Due to the lack of specific knowledge of the specifics of the life conditions of the dwellers and the fragmentation of the psychosocial health care network, the staff does not abide and is not ready to face the mental health needs in order to change these health iniquities....(AU)
Resumen Residentes de asentamientos de reforma agraria tienen una vida marcada por condiciones de vida y trabajo precario, que unida a las barreras para tener acceso a las políticas y los programas sanitarios y de asistencia social agravan las situaciones de vulnerabilidad que tienen un impacto en la salud mental. Este artículo analiza el cuidado desarrollado por equipos de salud y atención social, relativos a las necesidades de salud mental de 9 (nueve) asentamientos rurales del Rio Grande do Norte, Brasil. Fueron entrevistados 53 (cincuenta y tres) de distintas categorías profesionales individualmente o en grupos. Utilizamos el Análisis de Contenido como propuesta para la categorización de los datos. Los resultados muestran que los trabajadores viven condiciones laborales precarias y los equipos tienen poco conocimiento del territorio y de las necesidades de salud mental. El cuidado implementado todavía corresponde a la lógica biomédica, con poca participación de los residentes y la desconsideración de los saberes y prácticas tradicionales de cuidado. En función del desconocimiento de las especificidades de la población asentada y la fragmentación de la red de atención psicosocial, esos equipos no logran acoger y responder a las necesidades de salud mental para cambiar las inequidades en salud....(AU)