RESUMO
Esta tese discute distintos enquadres (frames) da intersexualidade através do exame das representações biomédicas, midiáticas e do ativismo intersexo no Brasil. Atualmente, a intersexualidade tem sido nomeada pela medicina como desordem do desenvolvimento sexual e se refere a um conjunto extenso de variações em que cromossomos, níveis hormonais, órgãos sexuais internos e externos estariam em desacordo com o regime binário de sexo/gênero. A hipótese desta tese é a de que, para além de sua definição terminológica, intersexualidade e desenvolvimento (social, econômico, cultural, moral) entrelaçam-se e servem de meio de expressão recíproca em diferentes planos e narrativas. O trabalho desenvolve-se através da análise de material sobre intersexualidade divulgado pela mídia brasileira entre os anos de 2000-2017; em observações realizadas em evento médico internacional e quatro entrevistas com médicos em serviço especializado da cidade de Fortaleza; e entrevistas com seis ativistas intersexo brasileiros. A análise percorreu os múltiplos sentidos de desenvolvimento (biológico, sexual, social, econômico, político e moral) interseccionados a marcadores sociais da diferença, através dos quais se produzem enquadramentos sobre a intersexualidade. Como resultado, desenha o panorama de uma distribuição diferencial de visibilidades, sofrimentos, e narrativas no âmbito da regulação de corpos e identidades não-conformes ao regime binário sexual e de gênero