Queilite actínica e carcinoma de células escamosas de lábio: um estudo multicêntrico / Actinic cheilitis and Lip squamous cell carcinoma: multicenter study

RESUMO

Este estudo investigou a frequência da queilite actínica (QA) e do carcinoma de células escamosas de lábio (CCEL) em diferentes regiões geográficas do Brasil realizando uma análise temporal dos casos por década. Também se estabeleceu o perfil dos pacientes e analisou os aspectos clínicos e histopatológicos. Em uma análise retrospectiva (1953-2018), arquivos de biópsias de 10 centros de Patologia Oral e Maxilofacial localizados em diferentes estados do Brasil Pará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás foram analisados. O perfil da amostra, características clínicas e histopatológicas foram avaliados descritivamente e estatisticamente através dos testes qui-quadrado, ANOVA e t-Student utilizando o programa SPSS versão 23.0. Os laudos histopatológicos de QA e CCEL foram examinados de acordo com a classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS) (2017). As análises estatísticas foram feitas utilizando o programa Dos 198.709 espécimes de biópsias, 2.017 casos de QA e 850 casos de CCEL foram avaliados, representando 1,0 e 0,4% das lesões orais, respectivamente. Em geral, indivíduos do sexo masculino (nQA=1.439, 71,4%; nCCEL=673, 79,3%), brancos (nQA=1.640, 87,3%; nCCEL=726, 91,3%), na sétima década de vida (nQA=570, 29,8%; nCCEL=222, 27,4%) com acometimento do lábio inferior (nQA=1.990, 98,7%; nCCEL=827, 97,3%) foram os mais afetados. Indivíduos fumantes e consumidores de álcool tiveram um maior grau de invasão nos casos de CCEL (p=0,004 e p=0,020) bem como indivíduos com história prévia de QA (p=0,018). A QA e o CCEL em estágios iniciais ainda são lesões subnotificadas no Brasil e negligenciadas por parte da população acometida. Novos dados sobre as características sociodemográficas e clinicopatológicas de 2.017 casos de QA e 850 casos de CCEL foram adicionados à literatura. Essa caracterização em um país tão grande e com tantas diferenças regionais como o Brasil fortalece evidências para clínicos, dermatologistas, estomatologistas e oncologistas e para o desenvolvimento de políticas públicas na prevenção dessas lesões na população brasileira.

ABSTRACT

This study investigated the frequency of actinic cheilitis (AC) and lip squamous cell carcinoma (LSCC) in different geographic regions of Brazil, making a temporal analysis of the cases per decade. It also established the profile of the patients with this lesion and analyzed the clinical and histopathological aspects. In a retrospective analysis (1953-2018), biopsy files of 10 Oral and Maxillofacial Pathology centers located in different states of Brazil Pará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro , São Paulo and Goiás were analyzed. The sample profile, clinical and histopathological characteristics were descriptively and statistically evaluated by chi-square, ANOVA and t-Student tests using the SPSS program version 23.0. Histopathological data of AC and LSCC were examined according to the World Health Organization (WHO) classification (2017). Of 198,709 specimens of biopsies analyzed, 2,017 cases of AC and 850 cases of LSCC were surveyed, representing 1.0 and 0.4% of the oral lesions, respectively. Overall, male patients (nAC=1,439, 71.4%; nLSCC=673, 79.3%), white (nAC=1,640, 87.3%; nLSCC=726, 91.3%), in their seventh decade of life (nAC = 570, 29.8%, nLSCC = 222, 27.4%) with involvement of the lower lip (nAC = 1.990, 98.7%, nLSCC = 827, 97.3%) were the most affected. Individuals smokers and alcohol users had a higher invasion grade in cases of LSCC (p=0.004 and p=0.020) as well as individuals with previous history of AC (p=0.018). The AC and the LSCC in early stage are still very underreported lesions in Brazil and neglected by the affected population. Novel data on the sociodemographic and clinicopathological features of 2,017 cases of AC and 850 cases of LSCC have been added to the literature. This characterization in such a large country and with so many regional differences as Brazil strengthens evidence for clinicians, dermatologists, stomatologists and oncologists and for the development of public policies for the prevention of these lesions in the Brazilian population.