Trajetória do crescimento e composição corporal das crianças nascidas menores que 32 semanas de idade gestacional ou com peso inferior a 1500 gramas até 4 a 7 anos de idade: estudo de coorte / Growth trajectory and body composition of children born under 32 weeks gestational age or weighing less than 1500 g until 4 to 7 years of age: a cohort study

RESUMO

Introdução: Os recém-nascidos muito pré-termo e com muito baixo peso, apresentam na idade corrigida do termo, uma menor massa livre de gordura e maior adiposidade, em relação aos nascidos a termo. O aumento da gordura corporal na idade corrigida do termo pode ser fisiológico devido a uma adaptação do recém-nascido pré-termo a vida extrauterina. Entretanto, o déficit de massa livre de gordura pode persistir ao longo da vida e reflete uma capacidade metabólica reduzida e, portanto, o maior risco de doenças metabólicas no futuro. Os estudos sobre a composição corporal na idade pré-escolar e escolar de crianças nascidas pré-termo evidenciam resultados conflitantes na literatura. Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar a composição corporal e o crescimento de crianças nascidas muito pré-termo ou muito baixo peso, entre 4 e 7 anos. Esta pesquisa apresenta como objetivos específicos comparar a composição corporal e o crescimento entre crianças que nasceram pequenas e adequadas para idade gestacional e avaliar associações entre a composição corporal nos primeiros 3 meses de vida com a massa livre de gordura e percentual de gordura entre 4 e 7 anos. Métodos: Estudo de coorte de recém-nascidos menores de 32 semanas de idade gestacional ou peso inferior a 1500 g, no Instituto Nacional em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira/Fiocruz. Os dados antropométricos e da composição corporal, com o uso da pletismografia por deslocamento de ar, foram coletados nas idades corrigidas do termo e 3 meses, e na idade entre 4 e 7 anos. O teste t de Student e o teste qui-quadrado foram utilizados para comparar o crescimento e a composição corporal entre recém-nascidos pequenos, e adequados para idade gestacional, nas idades corrigidas do termo e 3 meses e na idade entre 4 e 7 anos. A análise de regressão linear múltipla foi realizada para avaliar as associações entre a composição corporal e o sexo masculino nos primeiros 3 meses de vida com a massa livre de gordura e o percentual de gordura na idade entre 4 e 7 anos. Para todas as análises foi considerado o nível de significância de 0,05. Resultados: Os recém-nascidos muito pré-termo, pequenos para idade gestacional, na idade corrigida do termo, apresentaram menor massa livre de gordura e massa de gordura (gramas, percentual e índices) e menor peso, comprimento e perímetro cefálico do que os nascidos adequados para idade gestacional. Aos 3 meses, a massa livre de gordura, índice de massa livre de gordura, peso e comprimento permaneceram menores no grupo dos nascidos pequenos para idade gestacional. Entre 4 e 7 anos a composição corporal e a antropometria foram similares entre os grupos. Na idade corrigida do termo, a massa livre de gordura apresentou associação positiva, e o percentual de gordura associação negativa com a massa livre de gordura aos 4 a 7 anos de idade. Aos 3 meses, a massa livre de gordura apresentou associação positiva com a massa livre de gordura na idade de 4 a 7 anos. O ganho de massa livre de gordura entre o período do termo e 3 meses também apresentou associação positiva com a massa livre de gordura aos 4 a 7 anos de idade. Conclusão: As diferenças na composição corporal observadas nos primeiros 3 meses de vida entre as crianças nascidas pré-termo pequenas e adequadas para idade gestacional, não se mantiveram entre 4 e 7 anos. A composição corporal na idade de 4 a 7 anos, apresentou associações com a massa livre de gordura nos primeiros 3 meses de idade corrigida, sendo este um período sensível para o risco de doenças metabólicas ao longo da vida. Os estudos longitudinais de longo prazo são necessários para melhor avaliar a trajetória da qualidade do crescimento das crianças nascidas muito pré-termo.

ABSTRACT

Introduction: Very preterm and very low birth weight infants have less fat-free mass and higher adiposity at term corrected age, than those born at term. The increase in fat mass may be physiological due to an adaptation of the preterm newborn to extrauterine life. However, the deficit of fat-free mass may persist throughout life and reflects a reduced metabolic capacity and therefore, increasing the risk of metabolic diseases in the future. Studies on body composition at preschool and school ages of children born preterm show conflicting results in the literature. Objective: The aim of the present study was to evaluate the body composition and growth of children born very preterm and/or very low birth weight, between 4 and 7 years of age. This research presents as specific objectives the comparison of body composition and growth between children born small and adequate for gestational age and to evaluate associations between body composition in the first 3 months of life with fat-free mass and fat percentage between 4 and 7 years of age. Methods: Cohort study of infants younger than 32 weeks of gestational age or less than 1500 g, at the Instituto Nacional em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira / Fiocruz. Anthropometric and body composition data, using air displacement plethysmography, were collected at term and 3-month corrected ages, and at 4 to 7 years of age. Student's t test and chi-square test were used to compare growth and body composition between small and appropriate for gestational age infants at term and 3-month corrected ages, and at 4 to 7 years of age. A multiple linear regression analysis was performed to evaluate the associations between body composition and male sex in the first 3 months of life with fat-free mass and fat percentage at 4 to 7 years of age. For all analyses, a significance level of 0.05 was considered. Results: The very preterm, small for gestational age infants had had lower fat-free mass and fat mass (grams, percentual and indexes), and lower weight, length, and head circumference than the appropriate for gestational age infants. At 3 months, fat-free mass, fat-free mass index, weight and length remained lower in the small for gestational age group. Between 4 and 7 years, body composition and anthropometry were similar between the groups. At term corrected age, the fat-free mass showed a positive association and the percentage of fat mass a negative association with fat-free mass at 4 to 7 years. At 3 months, fat-free mass showed a positive association with fat-free mass at ages 4 to 7 years. Also, the gain in fat-free mass between term to 3 months was positively associated with fat-free mass ate 4 to 7 years at age. Conclusion: The differences in body composition and anthropometry observed in the first 3 months of life between children born very preterm small and appropriate for gestational age, were not maintained at 4 to 7 years of age. Body composition at preschool and school age shows associations with fat-free mass and % fat mass in the first 3 months of corrected age, and this is a sensitive period for the risk of metabolic diseases. Long-term longitudinal studies are needed to better assess the trajectory of growth quality in children born very preterm.