Da gestão dos riscos à invenção do futuro: considerações médico-psicológicas e educacionais sobre histórias de meninas que engravidaram entre 10 e 14 anos / From risk management to the future invention: medical, psychological and educational considerations on histories of 10 to 14 year-old girls who got pregnant

RESUMO

O aumento do número de casos de gravidez na adolescência vem sendo apontado em vários levantamentos estatísticos, além de sua ocorrência vir sendo constatada em meninas cada vez mais novas. Tal quadro se constitui em alvo de preocupações e debates no campo da saúde pública, da educação e da psicologia, que por sua vez acionam uma série de estratégias preventivas, que tentam dar conta desta realidade. Este trabalho se propõe a realizar uma análise da ocorrência da gravidez em adolescentes com idade entre 10 e 14 anos, no período de 1990 a 2001, usuárias do SUS - Sistema Único de Saúde - no Município do Rio de Janeiro e tem como objetivo compreender a relação entre as expectativas sociais e históricas sobre a maternidade e a adolescência no Brasil ( expressas através dos discursos e das práticas médico-psicológicas e educacionais para este estrato populacional ) e as trajetórias efetivas de meninas grávidas. Para tal, realizei uma pesquisa de campo, onde foram entrevistadas adolescentes grávidas na faixa etária pesquisada; puérperas que tivessem recém dado à luz; jovens mães que tivessem engravidado nesta mesma faixa etária, no período pesquisado; além de familiares e profissionais de saúde. Utilizei a história oral como o ponto de partida, através do qual, busquei obter elementos, os quais tratei a partir de uma abordagem compreensiva-interpretativa. Procurei analisar a passagem que se opera quando a emergência da gravidez na adolescência é patologizada, passando a ser vista como um problema médico e individual. Neste contexto, discursos e práticas do campo da psicologia e da educação entram em cena e tal fato pode ter como efeito uma espécie de gestão da população adolescente. Propus-me, então, a considerar a gravidez na adolescência enquanto ação coletiva interessei-me pelas mensagens, pelas negociações, pelos limites e pelas oportunidades que são expressas e/ou produzidas pelas trajetórias das personagens - protagonistas das histórias relatadas. Estas nos remeteram, tanto à busca de um lugar social instituído - através da assunção da identidade privada de mãe - como à possibilidade da invenção de um futuro melhor, que passam a ser almejados - e em alguns casos concretizados - através da própria maternidade