Cerrado deforestation threatens regional climate and water availability for agriculture and ecosystems.

RESUMO

O Cerrado brasileiro é uma das savanas mais biodiversas do mundo. Apesar disso, 46% da sua cobertura original foi desmatada para dar lugar a cultivos agrícolas e pastos. Estas extensas transições de uso do solo (LUT) têm o potencial de influenciar o clima regional, reduzindo a evapotranspiração (ET), aumentando a temperatura da superfície terrestre (LST) e por fim reduzindo a precipitação. O objetivo deste estudo foi quantificar os impactos de LUTs sobre ET e LST no Cerrado, combinando dados do satélite MODIS com mapas anuais de uso e cobertura do solo de 2006-2019. Foram realizadas análises de regressão para quantificar os efeitos de seis LUTs usuais sobre ET e LST, ao longo de todo o gradiente de paisagens do Cerrado. Os resultados indicaram que a retirada de florestas para dar lugar à agricultura ou pastagem aumentou a LST média em ~3.5°C e reduziu a ET média anual em 44% e 39%, respectivamente. Transições de formações savânicas para agricultura ou pastagem aumentaram a LST média em 1.9°C e reduziram a ET média anual em 27% e 21%, respectivamente. A conversão de campos nativos para agricultura ou pastagem aumentou a LST média em 0.9 e 0.6°C, respectivamente. Em contrapartida, transições de formações campestres nativas para pastagens aumentaram a ET média anual em 15%. Até o momento, as mudanças de uso do solo causaram redução de 10% da água reciclada para a atmosfera anualmente e aumento de 0.9°C da LST média ao longo do bioma, em comparação com a linha de base histórica sob vegetação nativa. As mudanças climáticas globais decorrentes do aumento das concentrações atmosféricas de gases do efeito estufa irão exacerbar esses efeitos. Considerando potenciais cenários futuros, observou-se que o abandono das políticas de controle do desmatamento ou o avanço do desmatamento legal (ao menos 28.4 Mha) reduziriam a ET anual (em −9% e −3%, respectivamente) e aumentariam a LST média (em +0.7 e +0.3ºC, respectivamente) até 2050. Por outro lado, políticas que promovam desmatamento zero e restauração dos 5.2 Mha de áreas ilegalmente desmatadas compensariam parte dos impactos de aquecimento e seca causados por alterações de uso do solo.