A produção de conhecimento na atualidade: dos sólidos às redes de fluxos

ABSTRACT

O conhecimento moderno, que a atualidade permite problematizar, tem como distintivo o estabelecimento de categorizações, de ordenamentos sólidos, onde para que algo seja categorizado é necessário o estabelecimento de um 'lado de fora' em oposição simétrica. É nessa medida que o mundo e o conhecimento modernos se constituem como intolerância à ambivalência, à multiplicidade, que se busca sempre conter através de novos ordenamentos. Ao trabalhar no sentido de estabelecer uma unidade do olhar e do mundo, essa perspectiva não deixa espaço para a pluralidade e reduz o múltiplo ao uno. Na atualidade, tal defesa de fronteiras parece se mostrar ineficaz, visto que a multiplicidade parece estar em todos os lados. Deparamo-nos com irremediáveis 'vertigens', constantes misturas entre categorias que até então não podiam ser misturadas. Esse quadro faz com que se torne urgente que tematizemos a questão do conhecimento, visto que este tem se remetido a uma normatividade estática e transcendente, instância esta que não podia admitir a fluidez do tempo. De acordo com o argumento aqui defendido, o modelo de redes coletivas parece ser uma alternativa para o conhecimento em melhor sintonia com tal estado de turbulência. Nesta perspectiva, todo e qualquer fato se constitui em um circuito de conexões, onde a rede se inscreve em suas amarras e as amarras constituem a rede. Cada um de seus nós é produto e produtor simultaneamente. O conhecimento que propomos, a partir deste modelo que encontra inspiração nos trabalhos de Bruno Latour e Isabelle Stengers, configura-se como um estranhamento de ordenamentos entendidos como rígidos, uma busca de escape das medidas que 'empurre a rede sempre mais adiante' (AU)