RESUMO
In a particular region within western Amazonia, Amazonian manatees (Trichechus inunguis) live in a floodplain environment that becomes inhospitable for them during the annual low-water season. To flee from it, they undergo a dangerous migration to a refuge while water levels are dropping fast. Our aim was to better understand the role of depth variation in this migratory process. We analyzed the sole tracking data on wild manatees (n=10 males), 30 years of Landsat images, a 14-year hydrograph and a 3-D bathymetric model. Migratory routes contained shallower segments, here called 'migratory bottlenecks', which dried out at the end of most lowering-water seasons, blocking the passage to the refuge. Manatees began migrating just in time to traverse the bottlenecks furthest away, suggesting they fine-tuned their departure so as to maximize time within the foraging home range without compromising safety. They apparently achieved this by estimating depth at the bottlenecks. Moreover, a bottleneck was created in >15 years, illustrating the environment's dynamism and the challenge this imposes upon manatees. Our results are probably generalizable to most of the species' range. We contend manatees possess an updatable cognitive map of their environment and are behaviorally plastic. Current dam-building plans, if implemented, would create more bottlenecks and make flooding less predictable, increasing manatee mortality from unsuccessful migrations. It would also partition the species into small populations, each prone to short-term extinction. The natural outcome would be the second species-level collapse. Economic growth should not come at the expense of the extinction of the iconic manatee.(AU)
Em uma região particular da Amazônia ocidental, peixes-boi amazônicos (Trichechus inunguis) vivem em um ambiente que se torna inóspito para eles durante a água-baixa anual. Para fugir dele, realizam uma migração perigosa para o refúgio enquanto o nível da água desce rapidamente. Nosso objetivo foi compreender melhor o papel da variação da profundidade neste processo migratório. Analisamos os únicos dados de rastreamento de peixes-boi selvagens (n=10 machos), 30 anos de imagens Landsat, 14 anos de hidrógrafa e um modelo batimétrico 3-D. As rotas migratórias possuíam trechos mais rasos, denominados gargalos migratórios, que secaram no final da maioria das vazantes, bloqueando o acesso ao refúgio. Os peixes-boi começaram a migração em tempo justo para atravessar os gargalos mais distantes, sugerindo que a sintonizaram para maximizar o período se alimentando sem comprometer a segurança. Para tal, parecem ter estimado a profundidade nos gargalos. Adicionalmente, um gargalo foi criado em 15 anos, ilustrando o dinamismo do ambiente e o desafio que isto impõe aos peixes-boi. Esses resultados provavelmente valem para boa parte da área de distribuição da espécie. Argumentamos que peixes-boi possuem um mapa cognitivo atualizável do ambiente e são comportamentalmente plásticos. Os planos de construção de barragens hidrelétricas, se concretizados, criariam mais gargalos e regimes de inundação menos previsíveis, dificultando a migração e consequentemente aumentando a mortalidade de peixes-boi. Também particionariam a espécie em populações pequenas, vulneráveis à extinção no curto-prazo. O desfecho seria o segundo colapso da espécie. O crescimento econômico não deve vir às custas da extinção do icônico peixe-boi.(AU)
Assuntos
Animais , Migração Animal , Centrais Hidrelétricas , Barragens , Trichechus inunguis , Comportamento Animal , Desequilíbrio EcológicoRESUMO
In a particular region within western Amazonia, Amazonian manatees (Trichechus inunguis) live in a floodplain environment that becomes inhospitable for them during the annual low-water season. To flee from it, they undergo a dangerous migration to a refuge while water levels are dropping fast. Our aim was to better understand the role of depth variation in this migratory process. We analyzed the sole tracking data on wild manatees (n=10 males), 30 years of Landsat images, a 14-year hydrograph and a 3-D bathymetric model. Migratory routes contained shallower segments, here called 'migratory bottlenecks', which dried out at the end of most lowering-water seasons, blocking the passage to the refuge. Manatees began migrating just in time to traverse the bottlenecks furthest away, suggesting they fine-tuned their departure so as to maximize time within the foraging home range without compromising safety. They apparently achieved this by estimating depth at the bottlenecks. Moreover, a bottleneck was created in >15 years, illustrating the environment's dynamism and the challenge this imposes upon manatees. Our results are probably generalizable to most of the species' range. We contend manatees possess an updatable cognitive map of their environment and are behaviorally plastic. Current dam-building plans, if implemented, would create more bottlenecks and make flooding less predictable, increasing manatee mortality from unsuccessful migrations. It would also partition the species into small populations, each prone to short-term extinction. The natural outcome would be the second species-level collapse. Economic growth should not come at the expense of the extinction of the iconic manatee.
Em uma região particular da Amazônia ocidental, peixes-boi amazônicos (Trichechus inunguis) vivem em um ambiente que se torna inóspito para eles durante a água-baixa anual. Para fugir dele, realizam uma migração perigosa para o refúgio enquanto o nível da água desce rapidamente. Nosso objetivo foi compreender melhor o papel da variação da profundidade neste processo migratório. Analisamos os únicos dados de rastreamento de peixes-boi selvagens (n=10 machos), 30 anos de imagens Landsat, 14 anos de hidrógrafa e um modelo batimétrico 3-D. As rotas migratórias possuíam trechos mais rasos, denominados gargalos migratórios, que secaram no final da maioria das vazantes, bloqueando o acesso ao refúgio. Os peixes-boi começaram a migração em tempo justo para atravessar os gargalos mais distantes, sugerindo que a sintonizaram para maximizar o período se alimentando sem comprometer a segurança. Para tal, parecem ter estimado a profundidade nos gargalos. Adicionalmente, um gargalo foi criado em 15 anos, ilustrando o dinamismo do ambiente e o desafio que isto impõe aos peixes-boi. Esses resultados provavelmente valem para boa parte da área de distribuição da espécie. Argumentamos que peixes-boi possuem um mapa cognitivo atualizável do ambiente e são comportamentalmente plásticos. Os planos de construção de barragens hidrelétricas, se concretizados, criariam mais gargalos e regimes de inundação menos previsíveis, dificultando a migração e consequentemente aumentando a mortalidade de peixes-boi. Também particionariam a espécie em populações pequenas, vulneráveis à extinção no curto-prazo. O desfecho seria o segundo colapso da espécie. O crescimento econômico não deve vir às custas da extinção do icônico peixe-boi.
Assuntos
Animais , Barragens , Centrais Hidrelétricas , Comportamento Animal , Migração Animal , Trichechus inunguis , Desequilíbrio EcológicoRESUMO
Em uma região particular da Amazônia ocidental, peixes-boi amazônicos (Trichechus inunguis) vivem em um ambiente que se torna inóspito para eles durante a água-baixa anual. Para fugir dele, realizam uma migração perigosa para o refúgio enquanto o nível da água desce rapidamente. Nosso objetivo foi compreender melhor o papel da variação da profundidade neste processo migratório. Analisamos os únicos dados de rastreamento de peixes-boi selvagens (n=10 machos), 30 anos de imagens Landsat, 14 anos de hidrógrafa e um modelo batimétrico 3-D. As rotas migratórias possuíam trechos mais rasos, denominados gargalos migratórios, que secaram no final da maioria das vazantes, bloqueando o acesso ao refúgio. Os peixes-boi começaram a migração em tempo justo para atravessar os gargalos mais distantes, sugerindo que a sintonizaram para maximizar o período se alimentando sem comprometer a segurança. Para tal, parecem ter estimado a profundidade nos gargalos. Adicionalmente, um gargalo foi criado em <15 anos, ilustrando o dinamismo do ambiente e o desafio que isto impõe aos peixes-boi. Esses resultados provavelmente valem para boa parte da área de distribuição da espécie. Argumentamos que peixes-boi possuem um mapa cognitivo atualizável do ambiente e são comportamentalmente plásticos. Os planos de construção de barragens hidrelétricas, se concretizados, criariam mais gargalos e regimes de inundação menos previsíveis, dificultando a migração e consequentemente aumentando a mortalidade de peixes-boi. Também particionariam a espécie em populações pequenas, vulneráveis à extinção no curto-prazo. O desfecho seria o segundo colapso da espécie. O crescimento econômico não deve vir às custas da extinção do icônico peixe-boi. (AU)